A difícil arte de saber esperar

Imagine a situação: uma sacola contendo queijo e presunto fatiados foi esquecida em um quintal onde haviam dois cachorros.

Qual você acha que seria a próxima cena?


1) Dois cachorros brigando pelo pacote?


2) Um cachorro correndo com a sacola até a sua casinha para que o outro desista de obter uma parte da guloseima?


Para mim essas seriam as duas hipóteses mais esperadas. Mas não foi o que ocorreu.


dois-cachorros-ilustracao

Ringo e Rex

A diferença de idade entre eles era de 4 anos.

Conviviam bem, apesar das brigas ocasionais, porém intensas.

Daquelas em que é necessário alguma intervenção para que algo pior não aconteça.

Tenho algumas cicatrizes desses momentos, pois apesar de fazer uma análise rápida da situação para encontrar os melhores lugares para segurar em cada um deles e não levar mordidas, muitas vezes eu errava e só percebia os “estragos” em mim após separá-los.

Eram cães sem raça definida, assim como todos os que conviveram e como os que convivem agora comigo.


Rex, o mais novo, sempre foi mais brincalhão, gostava de bolas de tênis e bolas de meia – era o que tínhamos disponível.


O Ringo era muito “certinho”, mais “adulto”. Nunca gostou muito de brincar.


Voltando a sacola contendo frios que meu pai havia esquecido próximo ao portão, o Rex bem que tentou pegá-la, mas não conseguiu.


Tenho certeza de que teria comido tudo sozinho se pudesse.


Uma situação inusitada

A fidelidade dos cães é surpreendente em muitos casos. E nesse caso não foi diferente.

Enquanto meu pai não foi buscar a sacola, o Ringo não saiu de perto dela.

Mesmo gostando de frios, não mexeu em nada.

Apenas esperou. De forma calma e tranquila, como costumava ser.

Ao percebermos a falta dos produtos, nos deparamos com uma sacola e dois cães: um vigiando a sacola como se ali houvesse um tesouro e o outro torcendo para que o primeiro desistisse da guarda e fosse dar uma voltinha pelo quintal.


É bem provável que os dois houvessem ficado ali por quase 1 hora – o tempo entre o esquecimento da sacola e a percepção da falta.


Fico tentando imaginar a ansiedade do Rex. O pacote estava tão perto! E ao mesmo tempo, tão longe…


Mesmo que muito a contragosto, ele entendeu que esperar seria melhor do que um confronto direto.


No final, ambos ganharam um pedaço da guloseima.


Onde eu quero chegar?

Os animais e a vida podem nos ensinar ricas lições se estivermos disponíveis e interessados no aprendizado.

E saber esperar é um grande aprendizado.


Muitas vezes as emoções e os sentimentos falam mais alto do que deveriam e então atitudes por impulso são tomadas. E muitas delas resultam em arrependimento.


Às vezes uma frase pronunciada em um momento de ira causa estragos enormes – e até irreparáveis.


Sem a ira, será que as mesmas palavras e a mesma entonação de voz seriam utilizadas? É bem provável que não.


Se técnicas como respiração profunda ou contagem até 10 (ou até 50, se necessário) fossem utilizadas, será que o resultado negativo seria o mesmo? É provável que também não.


Sociedade do imediato

Na sociedade atual, tudo tem que ser para agora. Ou para ontem.

Cada vez mais, a capacidade de lidar com a espera e até com a frustração estão sendo relegadas à segundo plano. Isso quando não são completamente ignoradas.


A sociedade esqueceu que a frustração pode ser uma grande aliada no desenvolvimento pessoal, pois:


1) Não podemos ter tudo o que queremos.


2) É bem provável que pouco do que foi esperado se torne realidade.


3) Pouquíssimas coisas ocorrerão no tempo desejado.


Diante das três incômodas verdades acima, é uma escolha muito sábia e inteligente aprender a lidar com as frustrações e decepções em vez de utilizar o artifício da negação, que nada resolve, mas apenas adia a solução do problema.


relogio

 Conclusão

Saber esperar é uma atitude muito adequada em determinados momentos enquanto não esperar e agir é o ideal em outros.

Assim como a ação, a não-ação também tem seu lugar na vida.


Encerro esse post com um vídeo de uma nova versão de um estudo científico que foi inicialmente feito na década de 1960: o teste do marshmallow.


Houve o acompanhamento das crianças que participaram do estudo até a idade adulta. 


Algumas conclusões em relação as crianças que souberam esperar mais tempo para conseguir a recompensa maior:


– Melhor autoestima.


– Maior eficácia para atingir metas de longo prazo.


– Habilidade para lidar melhor com situações frustrantes e estressantes. 


– Índice de massa corporal menor. 

E você: sabe esperar quando essa é a melhor atitude?

 

 

Referência: Teste do Marshmallow – Revista Planeta (Terra)
Crédito das imagens: José Augusto Camargo e OpenClipart-Vectors – Pixabay

16 thoughts on “A difícil arte de saber esperar”

  1. Bom dia de serenidade, querida amiga Rosana!
    Como é importante ter prudência nas ações. O ímpeto não leva a um bom termos. A paz é imprescindível para a harmonia dos nossos atos.
    Uma postagem de luxo.
    Tenha dias serenos!
    Bjm carinhoso e fraterno

    Reply
  2. Rosana, que texto! Fantástico! Mais uma vez, os animais nos ensinando preciosas lições de vida.

    Hoje em dias, as pessoas são muito estressadas. Não sabem esperar. Não têm paciência. Tudo é pra ontem. Se não conseguem algo de imediato, reclamam. Realizam prejuízo (como na Bolsa de Valores). Brigam.

    Estamos testemunhando o nascimento de uma sociedade composta por muitas pessoas impacientes. Imediatistas. Isso causará sérios problemas para elas, em todos os níveis.

    O trunfo para ficar longe disso tudo é o que você falou no texto: saber esperar. Treinar a paciência.

    Abraços!

    Reply
  3. De fato, Rosana, a paciência é uma das maiores virtudes do ser humano e… por que também não dizer, dos animais rsrs?

    Mas olha, o Ringo é uma exceção canina, viu? Os cachorros que convivo só não comeriam tudo se estivessem com dor de barriga.

    Abraços!

    Reply
  4. Guilherme,

    "Estamos testemunhando o nascimento de uma sociedade composta por muitas pessoas impacientes. Imediatistas. Isso causará sérios problemas para elas, em todos os níveis."
    Além disso, poderão causar problemas para outros também, pois esse tipo de comportamento acaba respingando em toda a sociedade.

    Treinar a paciência não é algo fácil, mas muito importante para que o equilíbrio seja alcançado e o estresse minimizado.

    Boa semana!

    Reply
  5. André,

    Temos muito a aprender com os animais… No momento da caça a gente percebe que algumas espécies são muito pacientes, pois sabem que sem isso, não serão bem-sucedidos em seus objetivos.

    O Ringo era uma exceção mesmo, pois a maioria não pensaria duas vezes em comer tudo. rsrsrsrsrs

    Boa semana!

    Reply
  6. Adorei o conto, a história do rex, tal como as conclusões que dele podemos tirar. Os animais sempre nos ensinam.

    Feliz Dia da Mulher pra você, também.

    Beijos e bom domingo.

    Reply
  7. Adorei o post, que nos dá que pensar!…
    E algo que a actual pandemia, no vem ensinar! A parar… a dar valor ao presente… e a saber esperar… se se não quiser arriscar a saúde própria e a dos demais em comportamentos de risco, para satisfação de vontades momentâneas… que num minuto… podem deitar vidas a perder…
    Acho que no momento, estamos todos a ter a lição das nossas vidas, com tudo isto, que está ocorrendo, à nossa volta… e em muitas vertentes!…
    Beijinho
    Ana

    Reply

Leave a Comment