Você consome ou é consumido?

Vivemos em uma época na qual há uma forte crença de que o consumo de determinados produtos é praticamente uma garantia de bem-estar, admiração e valorização.

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Você já deve ter visto a cena: um automóvel muito caro passando por uma rua e várias pessoas olhando com admiração, como se tal situação fosse até um desfile.

O que será que passa pela mente dos pedestres ao visualizar tal cena? Acredito que alguns pensem algo como: 


“Como ele deve ser feliz por ter um carro desses!”


“Ele deve ter um atendimento especial nos locais que frequenta por ter esse carro.”


“Ah, se eu tivesse um carro como esse… Todos me tratariam bem.”


E o dono do automóvel, como será que se sente?


Além dos automóveis, muitos outros produtos proporcionam os mesmos sentimentos. É interessante notar que geralmente são objetos visíveis ao público como celulares, vestuário, joias, etc.


É bem provável que tenha sentimentos de bem-estar, prestígio, valorização, pertencimento a um determinado grupo social.

No final das contas, somos seres sociáveis e em maior ou menor grau, necessitamos fazer parte de um grupo, quer sejamos introvertidos ou extrovertidos. Sem isso, nos sentiríamos deslocados e excluídos.

 

Quando começa o  problema?

É evidente que necessitamos de muitos objetos para viver. Sem eles, a vida se tornaria muito mais difícil.

O problema começa quando os objetos são tão supervalorizados a ponto de tornarem-se tão importantes quanto a própria pessoa.


Há alguns anos ouvi uma frase para mim chocante de uma colega de trabalho que havia esquecido o celular: “Sinto como se faltasse uma parte do meu próprio corpo”.


Na época nem havia whatsapp, mas a dependência por esse aparelho já existia.


Além da dependência, o bem-estar e a sensação de valorização proporcionados por determinados bens levam muitas pessoas a buscarem os lançamentos de novos produtos não por questões funcionais, mas por status e para obterem novamente o bem-estar proporcionado pela aquisição de algo novo. 


Muitos não percebem que em breve e de forma bem sutil, o bem-estar vai declinando até sumir por completo.

Nesse momento, a busca pelo novo lançamento recomeça em um círculo vicioso permanente, já que sempre haverá um modelo mais atual e admirável. 

Nesse caso, quem é realmente o produto: a pessoa ou o objeto?


 loja-internet

 

O lado esquecido

O bem-estar e a sensação de valorização alcançados através da compra de objetos é muito superficial e fugaz se comparados aos mesmos sentimentos quando estes ocorrem pela valorização das qualidades pessoais.

Além disso, quanto dinheiro, tempo, saúde, descanso diário e convívio com familiares e amigos são desperdiçados para que seja possível a compra de produtos que não são capazes de proporcionar o retorno desejado em relação ao bem-estar duradouro esperado?


Será que o custo x benefício vale a pena?


Em muitos, ou até na maioria dos casos, a resposta é não, pois o foco está no lugar errado.


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Pense em um músico extremamente talentoso. 

Pense em Beethoven ou Mozart. E em um piano avaliado em 5 milhões de dólares. Aqui temos um objeto muito valioso e uma pessoa talentosa.


Qual dos dois, em sua opinião seria o mais valorizado em uma apresentação musical?


Acredito que todos – ou ao menos a maioria – diria com muita convicção que seria a pessoa e não o piano.


Conclusão

Os bens materiais fazem parte da vida. O problema é que muitas vezes tanta atenção é dedicada ao objeto que a lógica inverte-se: de consumidor passamos sutilmente a ser consumidos.

Não percebemos que o preço pago pode ser muito, muito mais alto do que o preço dos bens adquiridos, com grandes ou até irreparáveis prejuízos em várias áreas da vida como saúde, familiar e financeira.


Por isso, equilíbrio, bom-senso e inteligência emocional são essenciais. Ou como disse Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”.


Precisamos tornar o consumo consciente um hábito de vida. Precisamos valorizar o que realmente importa.


Valorize o simples. 

No final das contas, são as experiências, os eventos e o convívio com as pessoas que realmente fazem com que a vida tenha significado.

Sem dúvida, os objetos fazem parte de tudo isso, mas não são o item principal.

Lembre-se: aquilo que você possui não deve te possuir. Jamais.


Afinal de contas, você é o consumidor.

E não o produto.

 

Crédito das imagens: OpenClipart-Vectors200 Degrees e mohamed Hassan no Pixabay

 

20 thoughts on “Você consome ou é consumido?”

  1. Bem legal o texto. Eu não sou consumista. Tenh o que pra mim faz bem e preciso e minhas necessidades nunca são as de moda, tecnologias mais atuais, etc. Porém ,um celular( nada de ultimo modelo ou de marca) e o PC, preciso realmente…E, ainda bem os temos, pois nessas dias de quarentena, sem eles. teria enlouquecido de saudades! Equilíbrio, moderação é preciso sempre,não? beijos, tudo de bom ,chica

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  2. "No final das contas, são as experiências, os eventos e o convívio com as pessoas que realmente fazem com que a vida tenha significado." Perfeito!

    E eu aqui tentando comprar algo, mas acabo caindo naquela – "Pra que preciso disso?" Depois dessa pergunta, a vontade de comprar vai embora rs

    Boa semana!

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  3. Boa tarde, Rosana
    Que postagem sábia, parabéns. Valorizar o simples é essencial, o que importa são as pessoas, o amor que temos para compartilhar com elas. Bjs querida.

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  4. chica,

    Ter o que te faz bem e que atenda as suas necessidades – muito boa atitude, pois se formos nos deixar levar pela moda ou pela busca por atualizações tecnológicas constantes, não faremos mais nada. Além disso, a frustração será contínua, pois quando sair um novo produto, a mente já acreditará que o novo produto é essencial, devido aos hábitos anteriores de consumo. Imagine isso ao longo da vida…

    Você citou um ponto interessante: a grande importância da tecnologia nesse momento tão singular. Imagine algo dessa magnitude há 3 ou 4 décadas atrás.

    Boa semana!

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  5. Cowboy Investidor,

    E nesse caso, não é qualquer carro mais simples… Uma pena que com certa frequência os objetos sejam tão importantes, ocupando lugares de destaque não merecidos.

    Bom saber que gostou do meu post. 🙂

    Boa semana!

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  6. Investidor Inglês,

    Costumo fazer como você, pois se não houver essa reflexão, acabamos comprando muitas coisas não tão necessárias assim.

    Já reparou que 2 ou 3 dias depois, você acaba chegando à conclusão de que a compra era mesmo totalmente irrelevante?

    Boa semana para você também!

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  7. Lucinalva,

    "Valorizar o simples é essencial, o que importa são as pessoas, o amor que temos para compartilhar com elas."
    Você disse tudo. Precisamos reaprender a valorizar o que realmente importa.

    Bom saber que gostou do meu post. 🙂

    Boa semana!

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  8. Acho o cúmulo quando alguém quer comprar algo mais caro só por ser de "marca", sendo que há outras excelentes opções bem mais baratas que esses de marca, porém somente para alimentar o ego, muitos preferem o mais caro.

    Uma coisa que os consumistas talvez não percebam é que tudo é uma troca:
    – Você troca seu tempo pelo dinheiro;
    – Troca o dinheiro pelos produtos;
    – Logo está trocando os produtos pela sua vida.

    Então quanto mais consumista você é, mais estará entregando a sua vida para conseguir os produtos, sendo que muitas vezes compram o que não precisam ou para agradar alguém que não gosta, ou simplesmente para "ganhar um like" e assim seguem alimento o seu ego.

    É como você bem colocou: "No final das contas, são as experiências, os eventos e o convívio com as pessoas que realmente fazem com que a vida tenha significado."

    Abraços,
    Maromba Investidor
    https://marombainvestidor.com/

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  9. Perfeito, adorei a sua postagem, as vezes nos sentimos mal por fazer determinada compra mas a pressão de todos em volta de nós mesmo nos faz comprar assim mesmo.
    É incrível como a união de pessoas com mentalidade errada suplanta facilmente uma pessoa que tá com uma mentalidade adequada.
    A gente precisa se libertar dessa necessidade de aprovação.

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  10. Oi Rosana, adorei o exemplo do pianista e piano. Ficou muito claro.
    Realmente, muitas pessoas colocam importância no piano. Ou seja, no apartamento, no carro, na roupa, no relógio, ao invés de dar valor ao "eu", à essência, ao auto-conhecimento.
    Bom fim de semana.
    Beijos.

    viversempressa.com

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  11. sem coisas não há bons momentos para serem usufruídos

    trocamos nossas vida por coisas porque vale a pena e é preciso

    Mas ainda sobra muito de dessa vida para trocar por bens imateriais, que não necessariamente nos tornarão mais felizes e satisfeitos que comprar um carro, uma barra de chocolate ou qualquer objeto

    bons relacionamentos valem mais que uma casa, relacionamentos ruins valem menos que um carro

    abs!

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  12. Scant,

    "sem coisas não há bons momentos para serem usufruídos"
    Concordo 100% com você. O problema é que muitas vezes o consumo está na frente do usufruto do que foi comprado… Por isso, equilíbrio e discernimento são tão importantes.

    Gostei do que falou sobre os bens imateriais. No final das contas, são esses momentos, muitas vezes nos quais foram comprados coisas bem simples, como um sorvete ou um chocolate, que valem muito a pena e ficam marcados de forma positiva para sempre.
    Aliás, acho que todos nós temos boas lembranças de um sabor especial degustado e que sempre volta quando entramos em contato novamente com algo parecido.

    Um bom final de semana!

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  13. Yuka,

    Penso que em um mundo que dá tanta importância às coisas materiais, ver tudo de outra forma pode ser muito enriquecedor e importante ao auto-conhecimento.

    Bom saber que gostou do meu post. 🙂

    Um bom final de semana!

    Reply
  14. Estoico Investidor,

    A pressão é um grande problema… muitas vezes nem queremos comprar algo, mas para não nos sentirmos excluídos, acabamos comprando. Com o tempo vamos percebendo o quanto isso tudo é uma grande bobagem, mas na hora é bem difícil raciocinar de forma mais serena.
    De qualquer forma, perceber tudo isso é um grande passo, pois cada vez nos tornamos mais questionadores em relação aos hábitos de consumo da sociedade. E muita coisa que entendíamos como normal, acaba não fazendo mais sentido para nós.

    Agradeço por sua visita. Espero que goste do conteúdo do meu blog. 🙂

    Um bom final de semana!

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  15. Mais uma temática super interessante, por aqui!
    Decididamente… eu não compro nada, em função do status, e do parecer bem!…
    Compro coisas… que possam ser apreciadas… sem ser invejadas!… Porque sejam bonitas, práticas… mas até evito tudo o que seja de marcas ostensivas… pois nos tempos que correm… em certos lugares e horários, até podem dar origem a problema, quando menos se espera…
    Decididamente um carro último modelo… jamais fará parte dos meus objectivos de vida… e nem ter um smartphone me atrai! Como eu costumo dizer… uso um stupidphone para ter uma smartlife! Sem andar olhando para um ecrã, quando estou na rua, o tempo todo… investindo em problema de coluna e esforçando vista!…
    Aprendi que coisas caras… se estragam e avariam igualmente com grande probabilidade!
    Há uns anos atrás, andei meses, a poupar para comprar um conjunto de malhas de marca, que gostei imenso na altura… e que na altura custaram os olhos da cara… se cheguei a vestir aquelas malhas meia dúzia de vezes, foi muito… desfizeram-se em pelo, de uma forma incompreensível e inexplicável!… Curei-me!… Marcas, não são garantia de coisa nenhuma… escravizam-nos… endividam-nos e depois temos grandes problemas em descer de patamar, por qualquer motivo… quando nos habituamos a ser admirados/invejados!… Não quero essa energia em torno da minha vida!…
    Beijinhos! Boa semana!
    Ana

    Reply
  16. Ana,

    Excelente comentário!
    Gostaria de destacar alguns trechos:

    "Sem andar olhando para um ecrã, quando estou na rua, o tempo todo… investindo em problema de coluna e esforçando vista!…"
    Como o corpo humano aguenta muitos hábitos ruins antes de apresentar problemas mais sérios, muitas pessoas pensam que ficar com o pescoço curvado não fará tanta diferença assim, mas a carga imposta sobre a coluna cervical é enorme! E aquelas dores ocasionais acabam tornando-se frequentes.
    Será que vale a pena passar tanto tempo conectado dessa forma tão prejudicial à própria saúde? Além da visão, que cansa mesmo. Inclusive há estudos recentes indicando que o led prejudica a retina. Esse esforço ocular também cobrará um preço alto no futuro.

    Em questão de saúde, a analogia com o cartão de crédito é muito boa: você pode gastar tudo o que quiser, mas um dia a fatura chega.

    A situação da roupa de marca deve ter sido bem decepcionante. Mas de certa forma, foi até boa, pois esse hábito acabou não sendo cultivado por você.

    "Marcas, não são garantia de coisa nenhuma… escravizam-nos…"
    Você disse tudo.
    Há muitos produtos "sem marca" que também são bons e duráveis.
    Grandes redes de supermercado têm uma ampla gama de produtos de todos os tipos, inclusive vestuário – alguns considero muito bons.

    "uso um stupidphone para ter uma smartlife!"
    Simplesmente perfeito!!!!

    Boa semana,

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