Há histórias que nos marcam para sempre, como uma que ouvi quando eu tinha uns 15 anos.
Foi mais ou menos assim:
– Fulano está tão mal… Os médicos estão tentando de tudo, mas não está adiantando – disse a mãe.
– Ainda bem que ele tem dinheiro e está sendo bem tratado. Imagine se não tivesse – disse a filha.
A única coisa anterior ao diálogo que me lembro, foi a mãe dizendo algo sobre dinheiro não comprar tudo. A direta, inteligente e óbvia resposta da filha encerrou a questão. E a mãe ficou sem argumentos.
Culturalmente estamos acostumados a dizer que dinheiro compra isso, mas não compra aquilo. E muitas vezes nos esquecemos do que ele pode comprar.
Muitas pessoas até utilizam um versículo bíblico para justificar sua opinião:
“O dinheiro é a raiz de todos os males”.
Mas não é exatamente assim que está escrito. O correto é:
“O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. 1 Timóteo 6.10
Com a consciência e a percepção de que o dinheiro é neutro, que é um meio que pode ser utilizado tanto para o bem quando para o mal, os paradigmas podem ser, aos poucos, desconstruídos e reescritos.
Alguns exemplos clássicos de crenças que temos em relação ao dinheiro no Brasil:
1) Dinheiro não compra saúde
Não mesmo, isso é óbvio. Mas ele pode comprar os melhores tratamentos disponíveis. Além disso, pode comprar melhor qualidade de vida.
Como assim?
Acompanhe meu raciocínio: considerando o aumento do número de doenças relacionadas ao estresse, ao trânsito, à poluição e à insegurança pública, o dinheiro pode proporcionar a liberdade financeira, que por sua vez proporciona a liberdade de viver em um lugar adequado, mais seguro e mais perto do local de trabalho.
Tais fatores proporcionam melhor qualidade de vida, que por sua vez proporcionam uma sensação agradável de bem-estar.
O resultado?
Menos agentes estressores + melhor qualidade de vida = menos doenças, pois hormônios como adrenalina, noradrenalina e cortisol serão secretados em menor quantidade na corrente sanguínea do que ocorre com pessoas que habitam em locais impróprios, perigosos ou de difícil acesso (ou tudo isso junto).
Ou seja, morar em um local adequado acaba sendo também um preventivo contra várias doenças crônicas, inclusive ortopédicas, como problemas de coluna e vasculares por não ficar horas sentado em um automóvel, ônibus ou trem – isso quando há lugar para sentar-se no transporte público.
Para saber mais sobre os hormônios citados acima, veja os links no final do post.
Veja a foto abaixo. Com calma, de preferência.
Ela te proporciona quais tipos de sentimentos, pensamentos e emoções?
Para mim, é um local que remete a dignidade, contentamento, silêncio, tranquilidade, simplicidade, organização, limpeza, zelo, visual agradável e também a pessoas que se preocupam em valorizar o bairro em que moram.
Um lugar onde as pessoas provavelmente sintam-se felizes em chegar. Eu, pelo menos, me sentiria muito, muito feliz em morar em um lugar assim. É o tipo de lugar onde a vida vale a pena ser vivida. Essa é a minha opinião.
Agora veja essa outra foto.
A quais sentimentos, emoções e pensamentos ela te remete?
Para mim, a resposta é bem semelhante a anterior.
Acrescento paz e completude. Além disso, é um local que favorece a meditação, a contemplação e aumenta a qualidade da comunhão com Deus. Essa é a minha opinião.
Agora, vamos a terceira foto.
A quais sentimentos, emoções e pensamentos ela te remete?
Para mim, remete ao contrário de tudo o que falei sobre as fotos anteriores. Além da confusão visual tão intensa, acrescente violência (muita violência), muito barulho, enfim, o oposto de todos os sentimentos anteriores. Essa é a minha opinião.
Então, pergunto: em qual desses locais você acredita que teria mais qualidade de vida, e consequentemente, mais saúde física, mental e espiritual?
2) Dinheiro não compra felicidade
Também não compra.
Além disso, sempre existirão ricos infelizes e pobres felizes, pois felicidade tem muita relação com a personalidade e com a cosmovisão de cada um. Mas convenhamos: é muito melhor não ser tão feliz com dinheiro do que sem ele, pois além da infelicidade haverá também todos os problemas e privações inerentes a essa falta.
3) Só fica rico quem é corrupto ou quem explora os pobres
No Brasil, infelizmente temos exemplos de sobra nesse sentido, o que reforça o inconsciente coletivo que associa riqueza a algo negativo e ruim. Mas também temos bons exemplos, como Carlos Wizard Martins e Eduardo Saverin.
No exterior, há exemplos como Warren Buffet, Bill Gates, Jeff Bezos e Elon Musk. Seriam todos eles corruptos? Acredito que não.
Acredito ser incoerente que riqueza e corrupção sejam vistos como indissociáveis, pois o que faria sentido nesse cenário, exceto uma longa e crescente decadência?
Maior relevância deveria ser dada ao fato de que a corrupção se espalhou pela sociedade brasileira como uma praga, afetando todas as classes sociais e faixas etárias. Em maior ou menor grau, o “jeitinho brasileiro” faz parte da vida da maior parte da população.
Conclusão
O dinheiro não compra mesmo muitas coisas importantes, mas vê-lo dessa forma tão reduzida seria como olhar por um telescópio com as lentes invertidas ou pelo lado errado.
O dinheiro proporciona que você tenha melhores oportunidades e opções – algo que não teria sem ele.
Além disso, te dá a oportunidade de colaborar com alguma instituição filantrópica, de proteção animal, ambiental, enfim, as possibilidades são muitas.
Apesar de parecer até contraditório ou sem sentido para muitos brasileiros, é possível ser rico sem render-se aos apelos do consumo, sem possuir objetos puramente por status, ostentação ou comprar todas as atualizações de um determinado produto, como celular, por exemplo.
Dá para ser rico e ser simples simultaneamente. Warren Buffet que o diga…. Para mim, ele é o maior exemplo de uma coexistência harmônica entre riqueza e frugalidade. Para quem não sabe, ele está sempre entre os 5 homens mais ricos do mundo na classificação da Forbes.
O dinheiro compra muitas coisas – que só ele pode comprar. E jamais conseguirá comprar algo que esteja fora de seu escopo.
Para lidar melhor com o dinheiro, precisamos distinguir claramente o que ele pode e o que não pode comprar. Dessa forma, não classificaremos como ruim ou como vilão, algo que é simplesmente neutro.
Para encerrar, gostaria de deixar uma frase do André Azevedo, do Blog Viagem Lenta, para reflexão:
“A liberdade financeira é determinante para que desfrutemos plenamente as demais”.
Referências:
Efeitos do estresse no corpo humano
A felicidade e seus hormônios
Créditos das imagens: The Wacky Tacky Blogspot e Pixabay
Perfeito Rosana!
E que bela casa hein!
Boa semana!
Dinheiro pra mim significa liberdade de escolhas e poder de influência no mundo (poder político).
Se felicidade per se significasse dinheiro, nova york que é o lugar mais rico do mundo não seria o lugar com mais gente deprimida dos USA.
excelente post.
depois de garantir o mínimo existencial, dinheiro é mais uma questão de segurança e pequenas alegrias do que felicidade.
quantos não dariam sua fortuna para ter alguns anos a mais de vida e poder rever um falecido ente querido.
quem gosta de citar esse trecho da bíblia acaba esquecendo de mencionar a parábola do mordomo infiel, onde vemos que dinheiro em si não é o problema, mas a relação das pessoas com ele (como quase tudo o mais na vida).
abs!
Dinheiro realmente é muito importante por diversos motivos, não dá pra negar.
Acho que muitos erram ao dar ao dinheiro uma responsabilidade que não é dele.
Tem gente que acredita que se tivesse dinheiro conquistaria mais pessoas dos sexo oposto, seria mais respeitado, seus problemas diminuiriam etc. O que geralmente é ilusão.
Claro que homens com melhor situação financeira tendem a conseguir parceiras com mais facilidade. Mas que tipo de parceira?
A questão dinheiro x felicidade tem muitas variáveis.
Cada nova realidade, tem novas responsabilidades, novos desafios e até mesmo novos problemas, faz parte da vida.
Se a pessoa souber lidar bem com isso não haverá maiores desilusões.
Excelente texto Rosana! Fantásticas ponderações!
Essa sua frase "O dinheiro proporciona que você tenha melhores oportunidades e opções – algo que não teria sem ele. Além disso, te dá a oportunidade de colaborar com alguma instituição filantrópica, de proteção animal, ambiental, enfim, as possibilidades são muitas." resume o cerne da questão.
Ter liberdade para libertar e ajudar, de alguma forma, outras pessoas!
Abraço e obrigado pela citação!
P.S.:
se eu tivesse dinheiro, morava em uma das zonas azuis.
https://www.google.com.br/search?q=ZONAS+AZUIS&rlz=1C1GGRV_enBR748BR748&oq=ZONAS+AZUIS&aqs=chrome..69i57.4078j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8
Puxa, excelente post e vai de encontro com o que eu penso.
Tantas pessoas que preferem morar na favela do que se aventurar pelo interior do Brasil (sul e principalmente centro-oeste contam com muitas oportunidades para quem quer trabalhar [pena que faltam estes]) e muitos preferem ficar nas "cidades" simplesmente para serem "urbanos" como se isto fosse status ou qualidade de vida e não apenas acesso fácil ao consumo desmedido.
Sua segunda foto deu uma saudade de morar no interior novamente!! abcs
Muitos que moram em favelas já vem de outras cidades e Estados em grande parte de cidades interioranas e em alguns casos da roça.
Tem interior rico e pobre também.
Mas concordo que há mais possibilidades do que focar em meia dúzia de cidades.
Sem querer colocar lenha na fogueira, a maioria vem de outros estados do norte sem condicoes básicas. Ao inves deles irem para o mato grosso, ms ou paraná onde há muitas boas opcoes de trabalho e vida, vao se meter em favelas e drogas geralmente. Vale a pena viver assim?
Em SP tem muitos Mineiros e Paranaenses.
Tudo depende de vários fatores. Se esses migrantes tiverem alguma formação, condições de se manter, conseguirem arrumar logo um emprego, pode ser que prosperem.
No passado já foi mais fácil, mas ainda acontece.
Em outras capitais como Curitiba e Brasília
acontece situação semelhante.
Já acontece a migração de pessoas do Nordeste (principalmente) pra Estados do Centro Oeste pra trabalhar na roça e em menor escala pro sul.
Mas em quase todos os casos que cidades pequenas e médias atraem moradores em grande número, essas cidades não conseguem atender a demanda e a infraestrutura da cidade não acompanha o crescimento.
Independente da origem e destinos do migrante, é importante que se tenha instrução ou o mínimo de planejamento.
Mas em boa parte dos casos não há nenhum dos dois.
As pessoas vão em busca de um "sonho" que nem sabem ao certo qual é.
E a maioria dos brasileiros migra pra onde já tem parentes, dificilmente se vai pra um lugar que não se conhece ninguém.
E o consumo as vezes "desmedido" acontece em cidades pequenas também.
Obs: Sou filho de migrantes de origem humilde.
II,
Legal saber que gostou do meu post. 🙂
Abraços,
conhecimentofinanceiro,
Gostei do exemplo sobre NY – é impossível o dinheiro comprar o que não está em seu escopo.
Abraços,
Scant Tales,
Gostei do que você falou sobre o dinheiro ser útil para pequenas alegrias – acho que isso remete muito à infância, quando um sorvete em um domingo na praça central da cidade ficou gravado na memória para sempre como um desses momentos agradáveis proporcionados pelo dinheiro.
Boa lembrança a parábola do mordomo infiel – o dinheiro é neutro, o problema são mesmo as pessoas que lidam com ele.
Interessante você ter citado as zonas azuis – Loma Linda seria o meu objetivo se tivesse $$$$. É como eu disse no post: o dinheiro compra o que lhe é possível comprar. A saúde ele não vai comprar, mas sim a possibilidade de morar em uma das zonas azuis e assim ter uma qualidade de vida muito superior, que por sua vez será muito benéfico à saúde e à recuperação (ao menos parcial) de algumas enfermidades crônicas.
Abraços,
Anônimo,
Muitas pessoas acham que se tivessem muito dinheiro, todos os seus problemas estariam resolvidos, mas como você disse, a responsabilidade e o objetivo dele não são esses.
Sem dúvida ele abre portas e facilita muitas coisas (como relacionamentos), mas como você disse, sem saber lidar corretamente com ele, provavelmente haverá decepção.
Abraços,
André,
Bom saber que gostou do meu post!
Gostei da sua frase: "Ter liberdade para libertar…" – no caso do Brasil, se houvesse mais interesse em filantropia e não em assistencialismo, quem sabe o país estivesse em outro patamar de desenvolvimento.
Abraços,
AA40,
Talvez o medo do desconhecido ou o fato de não terem parentes no interior do Brasil como você citou é o que leve muitas pessoas a optarem por locais como o da última foto.
Incrivelmente, muitos ainda enxergam o fato de morar na periferia (ou favela) de grandes cidades como status, pois chegam em seus locais de origem e ao falar o nome da cidade onde moram, percebem uma certa admiração por parte dos moradores locais, já que chegam lá com celulares e roupas que os moradores provavelmente só veem na tv ou na internet. Acho que na realidade é esse consumo que causa admiração, pois não há nenhuma admiração morar em um lugar como o da última foto e também perder 3, 4 horas no trajeto, em transportes extremamente lotados, indignos e quentes das grandes cidades brasileiras do sudeste.
Anônimo,
"Mas concordo que há mais possibilidades do que focar em meia dúzia de cidades."
O problema é que a grande maioria foca mesmo em meia dúzia de cidades, o que acaba gerando muitos problemas nesses locais também, já que em muitos deles nem saneamento básico há, quanto mais uma infraestrutura digna, pois muitas prefeituras brasileiras sempre estão décadas atrasadas também nesse sentido.
No seu 2º questionamento, acho que a maioria prefere esses locais por um pretenso status – que na realidade não existe.
Anônimo 2,
Infelizmente não há mesmo planejamento e instrução, a migração ocorre por motivos exclusivamente financeiros. E o que era um sonho muitas vezes transforma-se em pesadelo, pois vão para locais ruins e perigosos, com qualidade de vida abaixo de zero e segurança inexistente. São locais propícios para os filhos entrarem em caminhos errados e talvez nunca mais serem os mesmos.
Acredito que o consumo desmedido esteja em todos os locais – muito em decorrência do marketing e suas muitas necessidades desnecessárias.
Abraços,
sobre a ultima frase, com certeza é determinante.
De tudo o que foi dito aí em cima existe escolhas e escolhas, não dá
para por a culpa só na pobreza…
A Casa Madeira,
Gostei do que disse.
Precisamos nos responsabilizar de verdade por nossas escolhas.
Boa semana!