Por que estamos tão cansados?

Sempre admirei o vigor, o ânimo e a disposição da minha avó.

Quando eu tinha 15 anos e ela por volta de 50, era de se esperar que eu tivesse mais disposição do que ela, mas a realidade era o oposto: ela disposta para receber visitas em sua casa, mesmo com muitos problemas de saúde. 

E eu cansada.


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O tempo passou, mas a disposição de minha avó não cessou até o momento em que seus problemas de saúde se agravaram muito (muito mesmo).  No final, acabou contraindo pneumonia e faleceu.


Ao mesmo tempo, o meu cansaço nunca me deixou completamente.


Um colega de trabalho contou que ao visitar o sítio da família, não aguentou o ritmo de trabalho de seu pai na roça. O que chama a atenção nesse caso é que esse colega tem 55 anos e seu pai 80!


Uma colega também não aguentou o ritmo de trabalho de sua mãe, que faz e vende salgadinhos. Assim como no exemplo acima, minha colega tem 45 anos e sua mãe 65 anos.


Uma outra colega de 25 anos não entende como sua mãe consegue ser tão disposta enquanto ela vive cansada.

E quanto mais nova a pessoa, parece que pior é a situação do cansaço crônico.

Conheço muitos adolescentes cansados de verdade, assim como eu fui um dia.

É bem provável que você conheça histórias semelhantes.


Nossos avós

Se voltarmos até década de 50 (talvez até a década de 60 no máximo), como era a alimentação? Como era o estilo de vida?

Acredito que os avós da maioria dos leitores do blog provavelmente tiveram uma alimentação muito saudável, com muito menos agrotóxicos e alimentos industrializados.


Além disso, a poluição atmosférica, da água, sonora e luminosa eram infinitamente menores.

E a poluição eletromagnética ocasionada pelos aparelhos eletrônicos era mínima, pois só havia o rádio e talvez poucos televisores em algumas casas nas cidades naquele tempo.

Outro fator a ser considerado é que em muitos locais só haviam lamparinas e velas.

E por não haver muito o que fazer durante o início e metade da noite,  esse período era utilizado para dormir.

No escuro.

Em silêncio.

Sem luzes de stand by.

Ou luzes azuis de telas, que inibem a liberação da melatonina (hormônio que induz ao sono).

Acredito que naquela época as pessoas tinham um sono de muita qualidade, pois além do ambiente ideal para isso, o cansaço natural provocado pelo trabalho predominantemente físico e a alimentação sem produtos industrializados acabavam proporcionando um sono reparador.


Também não havia o excesso de estímulos mentais e de informações da atualidade. Por isso, o cérebro não era obrigado a lidar com todo o excesso que há na atualidade.


Nossos pais

Acredito que a maioria dos pais dos leitores do blog vivenciou ao menos um pouquinho da fase citada acima. 

Com a migração e o crescimento desordenado das grandes cidades brasileiras, o estilo de vida e os hábitos mudaram de forma até que sutil, mas muito negativos.


Para ilustrar melhor o que quero dizer, imagine a construção de uma casa. Bons materiais resultarão em uma estrutura forte e resistente, mas se eles não forem tão bons, a casa necessitará de manutenções mais constantes.

Enquanto nossos pais são a casa feita com bons materiais, nós somos a casa construída com materiais não tão bons.

A alimentação e o estilo de vida da época em que nascemos já não eram tão bons assim, muito pelo contrário.

É bem provável que os itens que descreverei abaixo foram vivenciados por nossos pais a partir da segunda infância ou adolescência, sendo que a primeira infância foi boa, ou seja, a base foi adequada às necessidades do organismo.

A industrialização em larga escala trouxe muitas facilidades, mas também muitas desvantagens como o uso excessivo de agrotóxicos, corantes, aromatizantes e conservantes artificiais na alimentação.

O ar puro foi substituído pela intensa liberação de gases nocivos à saúde, como o monóxido de carbono.


A água pura, muitas vezes retirada em nascentes foi substituída por água proveniente de represas construídas exclusivamente para esse fim.

O problema é que esse tipo de água precisa ser tratada com muitos produtos químicos, principalmente nas grandes cidades nas quais não é raro que invasões em áreas de mananciais contaminem a água com esgoto.

A poluição sonora proveniente dos veículos, fábricas, construções, enfim, resultantes das atividades humanas causam estresse, irritação, cansaço e perturbam a mente. Mas ainda hoje são poucas as pessoas que conseguem correlacionar o excesso de estímulos sonoros ao cansaço, a falta de paz, de tranquilidade e de clareza mental.


A poluição luminosa tornou-se tão comum, que poucas pessoas acham agradável caminhar somente sob a luz da lua.

Obviamente que em um país tão violento como o Brasil, esse hábito não é recomendado. Mas nem no quintal da própria casa as pessoas utilizam a luz da lua: sempre precisam acender uma lâmpada.

Para muitos, penumbra parece até sinônimo de escuridão.

Além disso, a quantidade de anúncios luminosos piscando de forma estratégica para chamar a atenção chegam a ser irritantes.

Então fico pensando naquela pequena mercearia iluminada com um lampião ou vela por apenas pouco tempo depois do por do sol. Não deveria ser uma rotina agradável por tanto tempo assim como o exagero atual também não é.

Com tanta iluminação interna e externa, os mais prejudicados somos nós mesmos, pois um sono reparador é impossível de ser obtido em um ambiente que não seja totalmente escuro como eu escrevi no post Dormir no escuro: essencial para a saúde.


O estilo de vida

A cada geração parece que o estilo de vida vai tornando-se mais estressante e disfuncional.

Além do excesso de informações, há o excesso de compromissos para as crianças, o excesso de competitividade no mercado de trabalho, o excesso de desemprego no país, o excesso de conectividade, o excesso de exigências acadêmicas, o excesso de estresse, e impaciência, de intolerância, de doenças. 

Vivemos na época dos excessos, excessos e mais excessos!


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Diante dos fatores citados acima – e muitos outros, pois a lista é enorme – não é difícil entender o motivo do grande aumento de casos de ansiedade, síndrome do pânico e depressão. E obviamente do cansaço, que é o objetivo desse post.


Conclusão

Talvez as novas gerações encontrem maneiras eficazes de lidar com os excessos atuais de forma que sejam menos danosos à saúde.

Enquanto isso não ocorre, acredito que o cansaço crônico continuará presente na vida de muitas pessoas. Mas até isso não é tão mal assim, muito pelo contrário, pois indica que há algo de errado necessitando de atenção.

Além disso, se não fosse o cansaço, o que seria do corpo em meio a tantos excessos negativos?

Claro que muitas soluções e invenções positivas foram criadas da década de 50 até hoje.

O século XX foi o que mais se destacou nesse sentido, ocasionando mudanças profundas nas sociedades. Para o bem e para o mal.

O grande problema é o uso exagerado: a indústria quer lucrar, as pessoas precisam trabalhar e querem consumir, enfim, a roda do capitalismo precisa girar. Mas girando com velocidade cada vez mais rápida, até quando a própria humanidade suportará?


Quem sabe daqui a 200, 300 anos, os futuros habitantes do planeta Terra encontrem uma solução para essa questão…

Crédito das imagens: Pixabay

11 thoughts on “Por que estamos tão cansados?”

  1. As explicações são simples
    Sedentarismo
    Alimentação ruim
    Comodismo
    Se o cara mora na cidade vai demorar alguns meses para se acostumar com o ritmo da fazenda
    Já o velhinho de 80 anos talvez tenha décadas de prática
    Seria o mesmo se comparassemos um atleta de 80 anos com um adolescente gordo de 17 que só joga vídeo game
    Idade é apenas mais um fator, que se considerado isoladamente impressiona, mas na realidade não é determinante

    Abs

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  2. Realmente, Rosana, os excessos acabam nos contaminando, mental, física e emocionalmente.

    Temos que criar nossas próprias "válvulas de escape" num mundo que não quer que "larguemos" dele.

    Abraços!

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  3. Scant,

    O seu comentário ilustra bem a importância do estilo de vida para o condicionamento físico. Não sei se conhece a animação Wall-e (2008), que reflete bem a realidade em relação ao sedentarismo excessivo, alimentação ruim e comodismo citados por você.

    Boa semana!

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  4. Guilherme,

    E como os excessos nos contaminam! E na maioria das vezes, sequer temos consciência disso.
    Gostei do que falou sobre as "válvulas de escape" – acredito que cada vez são mais necessárias e até urgentes na vida cotidiana.

    Boa semana!

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  5. Desde o estilo de vida… a factores genéticos… cada pessoa… é um caso…
    Um texto que nos faz reflectir, sobre tal matéria… em muitas vertentes! Gostei imenso!
    Beijinhos
    Ana

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