Muitos livros inicialmente atraem mais a nossa atenção pela capa e título do que pelo conteúdo, mas em “Psicopatas do cotidiano” esses 3 fatores de complementam de forma qualitativa e criativa.
A capa merece destaque, pois a face inexistente é espelhada, por isso, a maioria de nós pode até reconhecer-se ali, se consideramos que possuímos um, algum ou muitos dos traços de personalidade descritos, obviamente não de forma intensa ou disfuncional. Ou sim, e nesse caso, é muito importante que a leitura seja feita de forma muito atenta, com humildade e com a mente aberta, pois naturalmente tendemos a negar ou tratar como normais, coisas e fatos que fogem da normalidade esperada. Em relação a esse assunto, veja o post: Comum ou normal?
A primeira frase da contracapa é: “de perto ninguém é normal”. Se pensarmos um pouco, rapidamente e sem muito esforço nos lembraremos de pessoas inseguras, instáveis, inflexíveis, lunáticas, submissas e desconfiadas.
Infelizmente tais pessoas não percebem o sofrimento que causam a si próprias e aos que com ela convivem.
O livro tem 256 páginas que são divididas em 16 capítulos. Aborda 10 tipos de transtornos de personalidade e as principais características que precisam ser levadas em conta para fechar o diagnóstico correto, tarefa que não é fácil segundo a autora. Além disso, também aponta algumas dificuldades de convivência e apresenta dicas para melhorá-las.
Capítulo 1
No 1º capítulo há uma curta história de ficção, que ocorre em um hospital. Essa é a base para a descrição dos transtornos (cada 1 das 10 personagens apresenta 1 transtorno específico). Além disso, para melhor compreensão, são utilizados personagens de filmes e livros famosos como exemplos de portadores dos transtornos.
Geralmente, a partir do final da adolescência, as pessoas com algum tipo de transtorno começam a apresentar um padrão de comportamento repetitivo e inflexível, causando danos a si mesmas e aos que com elas convivem.
É importante salientar que a autora deixa bem claro que neste livro o termo psicopata refere-se a atual classificação do CID-10, denominado transtornos específicos de personalidade. Sendo assim, não há nenhuma relação com a antiga classificação relacionada à perda de juízo da realidade, surtos, delírios e alucinações.
“A maneira como interagem com o meio ambiente é que as torna de difícil convivência”, saliente Katia Mecler.
Capítulo 2
O 2º capítulo do livro, Jeito de ser, é muito interessante pois aborda e explica os seguintes termos:
– Temperamento: “é herdado geneticamente e regulado biologicamente”.
– Caráter: “está ligado à relação do temperamento com tudo o que vivenciamos e aprendemos na relação com o mundo exterior”.
– Personalidade: “é uma organização dinâmica, resultante de fatores de ordem biopsicossocial”. É o nosso “jeito de ser”, único, original, com traços positivos e negativos funcionais. Quando há presença de características permanentes, rígidas e inflexíveis desde muito cedo, talvez estejamos diante de uma personalidade perturbadora, que afeta a si mesmo e todos à sua volta.
– Primeira classificação para o temperamento (elaborada por Hipócrates, na Grécia Antiga): sanguíneo, colérico, fleumático e melancólico.
– Classificação dos 4 domínios (estabelecida pelo psiquiatra Robert Cloninger a partir dos anos 90): evitação de danos, busca de novidades, dependência de recompensa e persistência.
– Sentimento oceânico (de Sigmund Freud): autodestrutividade, cooperatividade, autotranscendência.
Capítulo 3
O 3º capítulo continua com definições sobre:
– Domínios: características que, quando acentuadas, tornam a pessoa pouco funcional ou inadaptada (em uma ou mais áreas). São eles: afetividade, desinibição e psicoticismo.
Capítulo 4
No 4º capítulo é explicada a diferença entre transtorno mental e transtorno de personalidade.
O transtorno mental afeta a pessoa em determinadas fases da vida e é frequentemente controlado com medicação e terapia. Exemplos: depressão, distúrbio do pânico, transtorno bipolar e esquizofrenia.
O transtorno de personalidade é uma perturbação mental decorrente de falhas da estruturação do caráter. Não há alternância de fases, como na depressão. Por ser uma organização patológica da personalidade, a resposta à medicação é baixa.
Capítulo 5 ao 14
Do 5º ao 14º capítulo são abordados os transtornos de forma individual.
Grupo A: esquizoide, esquizotípico e paranoide.
Grupo B: antissocial, bordeline, histriônico e narcisista.
Grupo C: dependente, evitativo e obsessivo-compulsivo.
Capítulo 15 e 16
O 15º capítulo, Salvando a própria pele, apresenta 9 questões para melhor compreensão do tema.
O 16º capítulo encerra o livro falando que é muito importante não deixar que a situação se transforme em um efeito dominó ao lidar com pessoas com transtornos de personalidade. Há também a indicação de terapia para quem convive com uma pessoa assim (para tornar a convivência mais tranquila) e para o portador (o que dificilmente ocorre, por causa da negação de que há um problema).
Em minha opinião, o único ponto negativo é não haver nenhuma dica sobre como lidar com o transtorno caso o leitor se reconheça com algum dos traços, sendo funcional ou disfuncional.
O livro é muito bom, esclarecedor e possui uma linguagem de fácil entendimento para leigos no assunto.
Recomendo!
Há também uma palestra no Youtube sobre o livro, com a própria autora. A duração é de aproximadamente 1h20min, mas vale muito a pena ver também.
Nessa palestra, em uma das perguntas finais, a autora diz que um psicopata não leria esse livro, pois o acharia chato, desinteressante e não conseguiria se identificar com nenhum dos distúrbios apresentados. Ao mesmo tempo, pessoas com poucas possibilidades de possuir tais transtornos se identificariam com vários dos traços de personalidade descritos e teriam interesse no assunto e na leitura. Foi o que aconteceu comigo.
Se você não precisa conviver com pessoas portadoras dos transtornos de personalidade explanados no livro, que são mais comuns do que imaginamos, então, parabéns. Você tem muita sorte!
Resenha Fabulosa!!!
Ah, li esse livro há poucos dias, embora tenha sido minha primeira leitura nesta área de psicologia, adorei o aprendizado absorvido e a resenha ajudou ainda mais a revigorar certos pontos que não foram compreendidos ou passaram despercebidos. rsrs
Olá, Garota Vênus
Agradeço por sua visita e comentário no meu blog.
Fico feliz em saber que gostou da minha resenha. Esse livro é realmente muito bom!
Abraços,
Boa Noite. Comprei o livro hoje e comecei a ler. Posso estar errado, mas os comentários e citações sobre os filmes, apesar de bastante ilustrativos, não condizem com o acontecido.
Na página 54 a autora afirma que John Nash, personagem do filme Uma Mente Brilhante, falava de extraterrestres. Eu gosto do filme e realmente não me lembro disso.
Na página 87 a autora afirma que o jovem do filme O sexto Sentido disse para a mãe "sem alterar um músculo": I see dead people. Eu acho que essa frase foi dita para o psicólogo morto.
Não estou criticando o livro, mas essa falta de precisão fez surgir um sentimento de desconfiança acerca das referências da autora.
Obrigado pelo espaço.
Anônimo,
Agradeço por seu comentário.
Não costumo ver filmes e não assisti nenhum dos citados pela autora. Por isso apenas li tais trechos, mas sem nenhuma referência anterior.
De qualquer forma, sua observação é muito pertinente. Em minha opinião, a precisão é essencial quando falamos em medicina.
Eu gostei do livro, achei a explanação sobre os diversos transtornos mentais muito bem elaboradas para leigos no assunto, o que é o meu caso.
Para mim, o livro mostrou muitas facetas de personalidade que eu desconhecia, traços (funcionais ou disfuncionais) que eu reconheci em várias pessoas com as quais convivo e em mim também.
Apesar da sua observação sobre os filmes, espero que você também goste do livro.
Abraços,
Sexto Sentido está correto. Na cena do carro, onde uma ciclista é atropeladaa, ele fala para a mãe que vê pessoas mortas e depois fala dos comentários da avó . Filmes otimós!
Spa Cabine,
Agradeço pelo comentário, agregou valor ao comentário do Anônimo.
Espero que goste do conteúdo do meu blog!
Um bom final de semana,
Oi Rosana, eu já tinha visto a capa deste livro, mas não cheguei a ler, apesar de ter me interessado muito em ler, por conta do que eu passei na infância.
São tantos livros que vão surgindo que a gente tem interesse em ler, né? rsrs Vai entrar na fila também.
Obrigada pelo post.
Um beijo!
Yuka,
É um livro esclarecedor, você vai gostar.
Você tem razão: são tantas opções de livros interessantes! Eu também tenho vários aqui na fila. rsrsrs
Boa semana!