De 1980 a 1993, a autora Mary Buffett foi nora de Warren Buffett.
Ao frequentar a casa da família, conheceu os “buffetolojistas”, um pequeno grupo de estudantes que pesquisava sobre a sabedoria do megainvestidor.
David Clark, um desses estudantes, possuía vários cadernos com as ideias fascinantes e meticulosas de Warren Buffett. Esse rico material serviu como base para vários livros escritos por ele e por Mary Buffett.
Em 2007, ambos se encontraram novamente.
Desse encontro, surgiu a ideia de escreverem juntos um livro direto e simples, que ensinasse os leitores a interpretarem as demonstrações financeiras a fim de a encontrar os mesmos tipos de empresas que Buffet procurava.
Um ano depois, o livro foi publicado. E apesar de ter sido escrito há mais de uma década, seu conteúdo continua atual, pois os conceitos e estratégias apresentadas se tornaram praticamente clássicos no mundo dos investimentos.
Publicado pela Editora Sextante, o livro possui 176 páginas divididas em 55 capítulos, sendo que a maioria deles possui no máximo 4 páginas.
Por onde Buffet começa sua busca por empresas que possuem um grande potencial?
Devido a natureza didática do livro, o primeiro capítulo inicia descrevendo como funciona a Bolsa de Valores e relatando alguns fatos históricos.
Há 200 anos já existiam os jogadores, que veem a Bolsa como um grande cassino. Alguns deles obtiveram grande riqueza e destaque na sociedade como Jim Brady e Bernard Baruch
Além dos jogadores há outros dois tipos de investidores:
– Os especuladores, que procuram obter grandes lucros em pouco tempo. Quando isso não ocorre, vendem as ações e procuram outras que consideram mais promissoras.
– Os que procuram empresas com potencial de crescimento a longo prazo. Warren Buffett que faz parte desse grupo.
O raciocínio de Buffett para encontrar tais empresas é simples, lógico e eficiente: a empresa precisa ter uma vantagem competitiva durável, o que resulta em três modelos básicos de negócios:
- A venda de um produto exclusivo.
- A prestação de um serviço exclusivo.
- Baixo custo de compra e venda de um produto ou serviço que possui demanda frequente.
Você deve estar se perguntando: como Buffett identifica essas empresas tão singulares?
Ele as encontra analisando as demonstrações financeiras (Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Fluxos de Caixa), que indicam se a companhia é mediana, se possui grande endividamento ou se possui uma vantagem competitiva durável – como é o caso da Coca-Cola, que vende o mesmo produto há mais de um século. E provavelmente o continuará vendendo ainda por muito tempo. Aliás, essa é uma das empresas favoritas de Buffett.
Demonstração do Resultado do Exercício – DRE
No início desta seção, há uma DRE de exemplo que é desenvolvida ao longo de 14 capítulos curtos.
A explicação é sempre muito didática e de fácil entendimento.
Além disso, há também alguns exemplos reais de empresas que Buffet considera boas.
Muitas vezes é feito um contraste entre uma empresa boa e uma problemática, o que facilita ainda mais o aprendizado, pois o contraste facilita a fixação das ideias na mente.
Abaixo estão alguns exemplos citados pelos autores nos capítulos referentes as linhas da DRE.
1) Empresas como Coca-Cola e Moody’s possuem altas margens de lucro bruto (acima de 60%) enquanto General Motors e Goodyear Tire alcançam apenas 20%.
Não é preciso pensar muito para enumerar vários concorrentes da GM e Goodyear, mas você consegue enumerar com facilidade alguns concorrentes relevantes das duas primeiras companhias citadas?
Buffet concluiu que as altas margens de lucro bruto são resultantes da vantagem competitiva durável, pois empresas que se encontram nesse nível podem definir o preço de seus produtos, conseguindo assim manter suas margens em patamares mais próximos do planejado – algo impossível para empresas inseridas em mercados com muitos players.
2) Empresas como Coca-Cola e Moody’s não precisam se preocupar com a expiração de patentes ou com a criação de um grande produto tecnológico.
Além disso, não possuem despesas com a área de Pesquisa e Desenvolvimento, enquanto Intel e Merck gastam grandes fortunas com essa área.
O raciocínio de Buffett para esta questão é o seguinte: alto investimento em Pesquisa e Desenvolvimento significa que há uma falha inerente na vantagem competitiva. Isso resulta em risco para as condições econômicas de longo prazo, o que por sua vez torna a empresa não segura de acordo com o perfil procurado pelo megainvestidor.
3) Ninguém gosta de pagar juros e Buffett está sempre atento a esta linha da DRE.
Ele descobriu que empresas que possuem uma vantagem competitiva durável tem pouca ou nenhuma despesa com juros.
Veja alguns números:
Empresa | Despesa com Juros sobre o Lucro Operacional |
Procter & Gamble | 8% |
Wrigley Co. | 7% |
Goodyear Tire | 49% |
American Airlines | 92% |
Após olhar a lista acima, em qual dessas empresas você investiria?
Os números dizem por si mesmos, não é?
Balanço Patrimonial
Assim como na seção anterior, aqui também há um exemplo de Balanço Patrimonial. Ele é desenvolvido ao longo de 28 capítulos curtos.
As primeiras coisas que Buffett verifica Balanço Patrimonial para identificar se há uma vantagem competitiva são:
- Propriedades e caixa (Ativos).
- Dívidas com bancos, fornecedores e debenturistas (passivo).
Ao analisar o caixa, Buffett verifica se o valor disponível é proveniente da vantagem competitiva ou da venda de uma parte do negócio.
Os investimentos de longo prazo (superiores a um ano) são analisados com atenção por Buffett, pois eles podem informar a tendência de investimentos da empresa – se é medíocre ou se apresenta uma vantagem competitiva durável.
A Berkshire Hathaway (empresa de Buffett) pertencia ao setor têxtil, que é altamente competitivo.
Após comprar uma participação controladora na empresa, parou de pagar dividendos e após isso conseguiu adquirir uma seguradora.
Ao longo de 40 anos, sempre comprou empresas que possuem uma vantagem competitiva durável. Como resultado, de empresa medíocre, Buffett transformou a Berkshire Hathaway em um grande império.
Lucros Acumulados
Outra área à qual Buffet dá atenção especial é a dos Lucros Acumulados.
No dia em que assumiu o controle da Berkshire Hathaway, ele interrompeu o pagamento de dividendos e assim que encontrava novas e boas oportunidades, esse recurso (os lucros acumulados) era utilizado para as novas aquisições – algo que utiliza até hoje.
Como passar do tempo, essa estratégia rendeu excelentes resultados: entre 1965 e 2007, ou seja, em 22 anos, a expansão do lucro acumulado ajudou a aumentar os rendimentos antes dos impostos de US$4,00 para incríveis US$13,023 por ação, o que corresponde a uma taxa média anual de 21%.
Você pode até pensar que 21% é pouco, ainda mais se considerar que a Renda Fixa no Brasil pagava algo entre 15 e 20% há alguns anos ou se pensar nos traders que conseguem grandes lucros em pouco tempo – embora estatisticamente são pouquíssimos os que conseguem tal proeza.
Contudo, se pensar na Economia norte-americana, que possui baixas taxas de juros e inflação controlada, 21% é um número significativo. Além disso, com essa taxa, o capital será dobrado em menos de 4 anos. Como comparação, o rendimento da Poupança em 2020 foi de 2,11%. Para dobrar o capital, seriam necessários mais de 34 anos!
Imagine você investir RS 100.000,00 e em apenas 4 anos ter R$ 200.000,00? 21% é um bom rendimento anual, ainda mais se consideramos o investimento para longo prazo (mais de 20 anos).
Os autores utilizam até a expressão “galinha dos ovos de ouro” para a Berkshire Rathaway, mas essa é uma galinha diferente: ela não põe apenas ovos de ouro, mas faz com que de cada um desses ovos nasçam outras galinhas capazes de botar mais ovos de ouro. E assim sucessivamente.
A Demonstração dos Fluxos de Caixa
A demonstração dos fluxos de caixa informa se a empresa está ganhando mais dinheiro do que está gastando ou se está gastando mais do que está ganhando.
Apesar de ser a mais simples das 3 categorias, Buffett descobriu que algumas informações dessa demonstração que podem ser muito úteis para identificar empresas que se beneficiam de vantagens competitivas duráveis.
A compra de ativos fixos é uma dessas informações: quanto menor a fatia utilizada com essas despesas, melhor.
Veja dois exemplos que contrastam entre si:
1) A Coca-Cola, uma das empresas favoritas de Buffett, lucrou em um período de 10 anos US$20,21 por ação e gastou apenas US$4,01 por ação ou seja apenas 20% do seu lucro total foi utilizado para a compra de ativos fixos.
2) No mesmo período, a Goodyear Tire teve um lucro de US$3,67 após subtrair todos os prejuízos e despesas com ativos fixos de US$34,88 por ação ou seja, a empresa utilizou astronômicos 950% do lucro para cobrir as despesas com ativos fixos!
Você deve estar se perguntando: no caso da Goodyear Tire, de onde saiu toda essa quantidade de dinheiro extra?
Simples: de empréstimos bancários e da emissão de novos títulos de dívida ao público.
Como resultado, mais dívidas são acrescentadas ao balanço patrimonial, ou seja, maior quantidade de dinheiro será utilizada para o pagamento dessas dívidas.
Enquanto a Coca-Cola possui lucro excedente suficiente para realizar um programa de recompra de ações quando julgar conveniente, a Goodyear Tire não tem caixa suficiente nem para lidar com seu grande volume de gastos com ativos fixos. Isso ocorre por ser uma empresa de um setor altamente competitivo, que necessita de uma quantidade significativa de capital para a área de Pesquisa e Desenvolvimento e consequentemente para a compra de novos maquinários é insumos para a produção.
Enquanto isso, a Coca-Cola possui o mesmo produto carro-chefe há mais de 100 anos, não necessita de grandes aportes em Pesquisa e Desenvolvimento e tampouco para a compra de novos maquinários – exceto em caso de substituições por quebra ou renovação do parque industrial
Buffet descobriu que se uma empresa gasta até 50% do seu lucro líquido anual com despesas com ativos fixos, pode ser que também possua uma vantagem competitiva durável. Se gastar menos de 25%, é bem provável que isso aconteça devido a uma vantagem competitiva já existente e sólida.
Veja abaixo algumas empresas e seus números:
Empresa | Despesas com Ativos Fixos |
Wrigley Co | 49% |
Procter & Gamble | 28% |
Pepsico | 36% |
American Express | 23% |
Coca-Cola | 20% |
Moody’s | 6% |
A avaliação de uma empresa com uma vantagem competitiva durável
Antes de comprar uma empresa total ou parcial, Buffett analisa o lucro antes dos impostos e então se pergunta: a compra é realmente um bom negócio em relação ao preço pedido e às forças das condições de mercado em que ela atua?
Respondidas essas questões, Buffett consegue identificar empresas com vantagem competitiva durável que criem condições econômicas implícitas tão fortes que resultem no aumento continuo dos lucros, o que por sua vez aumenta a cotação da empresa na Bolsa de Valores quando o mercado reconhece seu potencial de crescimento.
Conclusão
Com linguagem simples e de fácil entendimento, o livro explica de maneira didática cada linha das demonstrações financeiras, sempre destacando os itens que Buffet considera os mais importantes para a identificação de empresas que possuem uma vantagem competitiva de longo prazo.
No final do livro há um pequeno glossário com os principais termos técnicos utilizados. Essa parte também foi elaborada com vocabulário de fácil entendimento.
Warren Buffett e análise de balanços é o tipo de leitura que proporciona novos insights sobre a análise de empresas, sobre o que é realmente importante procurar e o que não fará tanta diferença quando o objetivo é o encontro de vantagens competitivas duráveis.
Esse é um daqueles livros que em vários momentos pode te levar a pensar: “Como é que eu nunca pensei nisso antes?
Como disse Albert Einstein, “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”
Recomendo a leitura!
Olá, Rosana.
Parabéns pelo resumo do livro. Eu tenho esse livro. Gostei muito. É um livro que indico muito para quem investe em ações.
Abraços!
Cowboy Investidor,
Bom saber que também gostou da leitura!
Para mim, esse é um livro divisor de águas no mundo dos investimentos.
Boa semana,
Olá Rosana,
Bela resenha sobre o livro. E vem cá, ele é direto ou tem a famosa “enrolação”, que muitos livros de investimentos tem? rsrs
Achei bem interessante e a análise não é muito diferente da que eu fazia lá no blog. Vou colocar na lista de compra e logo comprarei ele usando seu link 😉
Boa semana!
Investidor Inglês,
Não é um livro com enrolação. Com linguagem muito simples e dados interessantes, como os das tabelas que postei.
Foi um dos melhores livros que já li sobre investimentos. Além disso, os autores conseguem falar de teoria e prática (com exemplos) de forma que o conteúdo não fique chato.
Agradeço por comprar pelo meu link. 🙂 Por tudo o que leio no seu blog, acho que você gostará muito da leitura.
Abraços!
Bom dia, Rosana
Deve ser um ótimo livro, bjs querida.
Lucinalva,
É um ótimo livro tanto para quem está iniciando quanto para os investidores mais experientes, mas que não entendem muito sobre os balanços das empresas.
Boa semana!
Elevado interesse esta publicação.
Muita saúde.
😉
Olhar D’Ouro – bLoG
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Rui,
É um excelente livro. Amplia muito a visão sobre quais dados são mais relevantes na análise dos balanços. Além disso, a linguagem é muito didática. Vale a pena ler!
Bom te ver por aqui. 🙂
Deve ser um livro super interessante, desconstruindo a linguagem super cientifica e técnica, que afasta muitos leitores destas temáticas… e que até lhes serão bem úteis para a vida!…
Excelente sugestão! Beijinhos!
Ana
Ana,
Um dos melhores livros que já li sobre o assunto.
Como você disse, muitas vezes a linguagem técnica e científica acaba por afastar os leitores. Por isso, considero esse tipo de livro tão importante.
Abraços,
Excelente resenha, Rosana!!!!!
Gosto muito de ler resenhas sobre os métodos de investimentos de Warren Buffett. São princípios atemporais, que se aplicam em todas as épocas, como as que estamos vivendo.
Abraços!
Guilherme,
Temos muito a aprender com as estratégias de Warren Buffett. E como você disse, são princípios atemporais, mesmo no dinâmico mundo dos investimentos.
Boa semana!
ótimo texto
um dia tenho que ler esse livro
na prática, opto pelos relatórios do Bastter para economizar tempo
abs!
Scant,
Esse é um daqueles livros que vale cada centavo.
Eu também leio relatórios (não do Bastter) e junto com o conhecimento aprendido no livro, espero estar tomando boas decisões.
Boa semana,