Há algum tempo, em uma conversa entre colegas, ouvi algo que merece um post.
Era manhã de segunda-feira e um deles falou, todo sorridente:
– Passei o fim de semana inteiro assistindo o seriado X no N….x.
– Que legal! Eu também preciso (precisa mesmo?) assistir o seriado Y – outro respondeu.
Aparentemente todos aprovaram a maneira como o fim de semana fora utilizado.
Menos eu, que obviamente fiquei quieta, mas me sentido deslocada, vivendo em uma sociedade com hábitos aparentemente comuns, mas para mim tão estranhos e distantes da minha essência.
Essa não foi a primeira pessoa que ouço dizer ter gasto sua vida suas horas assistindo de forma sucessiva vários episódios de temporadas de seriados.
Então, fiquei pensando: será que após 5 horas assistindo televisão ininterruptamente, a pessoa ainda está se divertindo de verdade?
Ou será que continua assistindo, na esperança de obter a mesma sensação de divertimento que as outras pessoas dão a entender que conseguem?
Será que alguém consegue mesmo se divertir assistindo televisão como no exemplo inicial do post?
Já ouvi relatos semelhantes de pessoas de várias faixas etárias: 20, 30, 40, 50 anos. E acho que você também.
Mas nunca vi nenhuma criança falar algo assim. Acho que nem elas teriam paciência para ficar tanto tempo em frente à televisão de forma estática (exceção para os videogames). Além disso, seus pais não permitiriam.
Sinceramente, não vejo sentido em hábitos como esse.
Talvez sejam hábitos de uma sociedade ávida por consumo, novidades, informação, realização, diversão, entretenimento, contentamento, completude, felicidade…
Hábitos de uma sociedade que anseia por uma vida que faça sentido.
Que anseia pela vida que realmente vale a pena ser vivida.
Créditos das imagens: graur razvan ionut e worradmu – Free Digital Photos
Olá Rosana!
Excelente assunto. Eu acredito que o diálogo que incia o post tem algo a suprir expectativas. Não nossas, mas as dos outros. Não estamos preocupados com nossa diversão em si, mas não podemos parecer alheios aos que os outros estão fazendo. Temos que estar antenados, até para comentar no trabalho na segunda-feira seguinte.
Claro que existem exceções, mas grande parte vive para preencher expectativas que no fundo, não são suas. Escrevi poucos meses atrás sobre isso em um post que fala da venda da vergonha pela publicidade, acredito que vc tenha lido.
Mas eu lembrei de um texto que escrevo já há anos, quando estava viajando pelo mundo. Cacei ele e aqui está. Falo do turismo, mas já abordava o assunto da expectativa: http://www.viagemlenta.com/2012/12/turismo-de-culpa.html
Abraço!
André,
Eu também acredito que no exemplo que citei, o principal objetivo é suprir as expectativas dos outros e não as da própria pessoa e causar admiração.
Uma pena, pois vivendo assim, as pessoas não vivem sua própria vida, talvez nem cheguem a descobrir qual é a sua missão ou o que realmente lhe dá prazer.
Eu li seu post sobre publicidade e vergonha, termos que parecem tão distantes e sem relação um com o outro, mas estão muito ligados, embora a maioria das pessoas não tenha percebido isso ainda.
Agradeço pela indicação do post de 2012, vou ler!
Abraços,