Jogo da aprovação

Algumas compras parecem até que se tornam grandes acontecimentos para muitas pessoas.

Você já deve ter visto a cena: um automóvel ou smartphone novo são mostrados em detalhes aos amigos, parentes e colegas de trabalho.


O comprador fica feliz com o reconhecimento e com a aprovação das pessoas, mesmo daquelas que de forma oculta ficaram com inveja por não possuírem recursos para comprar um produto semelhante ou até melhor.


chaves-de-carro

 

A cultura da aprovação

Não há nada de errado com a vontade de ter aprovação.

Se você tirou boas notas, conseguiu ter sucesso na carreira que escolheu, melhorou o autocontrole, terminou uma maratona, criou uma música agradável, conseguiu mudar para mais saudáveis os seus hábitos alimentares ou conseguiu fazer alguma outra coisa que seja importante para você, a aprovação e o reconhecimento são muito bons, pois são fatores motivadores para o alcance de metas afins ou mais elevadas.


A questão é quando essa aprovação está relacionada a algum bem de consumo – aqui eu gostaria de excluir a casa própria em um lugar digno, decente e seguro, algo que é muito distante para a maioria dos brasileiros.


Muitas vezes a empolgação de quem está mostrando seu novo automóvel ou smartphone é tanta, que por educação ou consideração muitas pessoas estão presentes apenas fisicamente no “evento”, mas para o comprador esses “selos de aprovação” também contam.


Há tantas coisas que mereceriam mais reconhecimento, mas por não serem palpáveis, acabam sempre esquecidas. O jogo da aprovação quase nunca é utilizado para elas.


Por que isso ocorre?

Porque é o caminho mais fácil e mais rápido para obter-se aprovação e sentimento de sucesso, mesmo que isso seja de forma temporária e fugaz.

Um exemplo: imagine que você queira ser músico.


Você precisará gastar uma considerável quantia para comprar um bom instrumento e bons acessórios.


Precisará estudar e praticar muito para tocar bem. E isso vai levar um bom tempo.


A grande diferença é que nesse caso, a aprovação não será tão fugaz e a sensação de realização será bem mais duradoura.


A indústria está aí para servir aos dois tipos de objetivos, mas a alta demanda por bens de consumo a incentiva a produzir cada vez mais versões sutilmente diferentes das anteriores, de forma que as peças da versão “x” não se encaixem na versão “y” ou “z”.

Acredito que automóveis e eletrônicos liderem essa lista – a obsolescência programada está sempre em ação.

Enquanto isso, na música, a guitarra de hoje não é diferente da utilizada nos anos 60. Nem a bateria. Nem o baixo. Exceto por poucas e pontuais modificações.


Se o botão de volume quebrar, o mesmo usado no modelo da guitarra dos anos 60 servirá na guitarra fabricada hoje e na guitarra fabricada há 10 e 20 anos também.


 

Onde eu quero chegar com tudo isso?

Apesar da ânsia humana por aprovação através do caminho mais fácil, gostaria de sugerir uma outra linha de pensamento: o reconhecimento de valores e atitudes.

Não é comum uma pessoa elogiar outra por esta ser honesta, calma, organizada, pontual, pacífica, simples, dedicada, financeiramente equilibrada, boa ouvinte, etc.


O reconhecimento de características positivas não poderia motivar a pessoa a desenvolver ainda mais o que ela já tem de bom? Eu acredito que sim.


Se pessoalmente você não se sentir muito à vontade para isso, poderia enviar uma mensagem por e-mail ou aplicativo.

Só é necessário cautela nas palavras para que o outro não entenda o elogio como algum interesse “a mais”. Por isso, uma dica é começar a reconhecer as qualidades de seus próprios familiares. Talvez não seja fácil, mas sem dúvida é muito importante para aumentar a qualidade desses relacionamentos.

Até em caso de bens materiais, em vez de reconhecer apenas a compra, elogie a pessoa pela disciplina, perseverança, bom gosto, etc.

 

 

Conclusão

Todos gostam de aprovação e reconhecimento dos demais, mas quando isso ocorre mais pela aquisição de bens materiais do que por atitudes e valores, pode tornar-se até um círculo vicioso de consumo. Por isso, é muito importante que os elogios ocorram também pelo que a pessoa é, por suas qualidades e virtudes.

O jogo da aprovação não é ruim, muito pelo contrário, mas a estratégia poderia estar mais focada na pessoa, em seus dons, talentos, afinidades e virtudes do que nos bens que ela possui.

 

Créditos das imagens:
Amazon (botões de guitarra)
Pixabay (demais imagens)

 

12 thoughts on “Jogo da aprovação”

  1. Pra que tanta necessidade de aprovação?
    Se a pessoa passa a se alimentar melhor por exemplo, o foco é a melhora da saúde e qualidade de vida e não a aprovação alheia.
    Tudo isso é vaidade. Faz parte do ser humano? Faz. Mas temos que tentar sair disso.

    É legar ser reconhecido com siceridade? É. Mas se o reconhecimento não vier deixaremos de agir com honestidade? Deixaremos de nos alimentar bem? Deixaremos de fazer exercícios ou seja lá o que for?

    Não deve ser assim, ou então a pessoa não tem a convicção do porque tem determinado comportamento, pratica tais ações ou mesmo compra determinados bens.
    Deve-se é buscar mais maturidade nesse sentido, esse ao meu ver deveria ser o foco.
    Se a pessoa é mais madura nesse ponto, ela não vai se endividar pra comprar bens pra mostrar pros outros.

    A indústria, o marketing, publicidade estão aí fazendo a parte delas, a decisão de consumir algo ou não vai de cada um.

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  2. Oi Rosana, excelente reflexão com todas as ponderações preliminares para concluir esta linha de aprovação que seria a ideal. Lembrei de outro dia no final da tarde um dos amigos chegou do trabalho, todo entusiasmado apresentando um iphone 7 inflado de satisfação em ter conseguido por fim comprar um celular da famosa maçã. Mas era para um grupo de gente não muito antenada em informatica e celulares. Eu lhe disse que era uma bela maquina e que era sonho de consumo de muita gente. Ele sorriu mais alegre.
    Bela postagem amiga.
    Abraços

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  3. Muito bom texto. Uma vez que vc consegue romper com isto e não dar bola para nada nem ninguem vc além de viver mais feliz não precisará de aprovação nem de comprar coisas para ter aprovação da sociedade e família. Abcs

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  4. Anônimo,

    Gostei do seu comentário tão enriquecedor ao meu post.

    Maturidade: acho que essa é a palavra chave. Pessoas bem resolvidas emocional e psicologicamente procuram primeiro o bem estar pessoal e os valores, como a saúde e a honestidade citados por você. Se alguém aprovará ou não, não é algo que está em 1º lugar para pessoas assim.

    Quando a pessoa chega nesse nível de desenvolvimento acaba percebendo o quanto gastou de recursos financeiros e de tempo tentando impressionar os outros ou tentando pertencer a sociedade de consumo. No final, tudo é vaidade, tudo é ilusão. Como disse Salomão, correr atrás do vento. Por isso, sempre gosto de falar aqui no blog sobre os valores, sobre o que é mais importante na vida. Não que o consumo não seja, pois é muito importante, mas muitas vezes o deixamos passar na frente de prioridades como ter momentos bons com aqueles que são os mais importantes para nós, sejam pais, filhos, irmãos, cônjuges ou animais de estimação. No final, o que vale mais são as experiências. Em poucos casos o bem material é o mais importante.

    Gostei do que disse no final: a indústria e o marketing estão aí fazendo o papel à eles designado. Cabe à nós prestarmos muita atenção para sabermos o que é realmente um desejo nosso ou que foi plantado em nossa mente pelo marketing tão agressivo da atualidade.

    Boa semana!

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  5. Toninho,

    Gostei do exemplo que citou. Dependendo do grupo, haveria uma admiração intensa em relação ao smartphone. Mas nesse caso, a aprovação não foi a esperada.

    De certa forma, quem sabe não foi até bom para a pessoa em questão pensar um pouco sobre a necessidade de querer a validação de outros por um produto comprado.

    Infelizmente é isso o que a mídia passa: não basta comprar. Tem que mostrar para os outros e ser admirado e aplaudido por isso. Pelo menos você conseguiu tornar a situação menos constrangedora. Imagino que a pessoa deve ter ficado bem sem graça no momento. Eu ficaria.

    Boa semana!

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  6. AA40,

    Quando você rompe com isso, começa a prestar mais atenção nas coisas mais importantes e essenciais.

    Na sociedade de aparências em que vivemos, acredito que sua frase tão perfeita soaria até como uma afronta, pois como comprar algo se não for para mostrar, para ser aplaudido e admirado?

    Eu acredito que seja saudável a aprovação pelo que somos, por nossos valores e atitudes. É bom ser elogiado pelo que você é. Esse tipo de elogio e aprovação podem fazer muito por nós, pois naturalmente nos levam a tentar sermos melhores do que somos.

    A aprovação pelo que você TEM é muito fugaz e interminável, mas a aprovação pelo que você É pode sim fazer a diferença.

    Boa semana!

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  7. Vivemos uma numa cultura de superficialidade onde a atitude e valores… por vezes… passa por um bom ângulo numa selfie… e aqui surge uma outra faceta, das novas tecnologias… a desenvolver a cultura da aprovação… em função do número de likes… face a algo que se mostre… e como se mostre…
    Um post super interessante… com um assunto, que daria pano, para mangas, como se costuma dizer…
    Beijinhos
    Ana

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