Perdoar a si mesmo: como isso é difícil!

Acredito que a maioria de nós possui alguns eventos passados pelos quais não se perdoa. Alguns deles muitas vezes estão em um passado bem remoto, talvez até na infância, mas mesmo assim nos trazem profundo arrependimento e amargura.

 

A tirania do “e se…”

Muitas vezes ao relembrarmos desses momentos deixamos nossa mente divagar no que poderia ter acontecido se tivéssemos agido de outra forma.

Tal atitude piora ainda mais a situação ao validar nossa sensação de culpa e arrependimento.

E para piorar ainda mais, cada vez que pensamos no fato em questão e divagamos pelo “e se…”, validamos ainda mais nossa culpa e nos sentimos piores do que antes, pois insistimos nos tempos condicionais que hoje julgamos serem melhores.

 

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O x da questão

O problema é o hoje.

Temos quase certeza de que hoje faríamos diferente. Mas na época do evento em questão, não éramos quem somos hoje. Não possuíamos a idade, a experiência, o conhecimento, a cosmovisão e a maturidade atuais.


No momento da decisão tomada, fizemos o que acreditávamos ser o melhor naquela situação, de acordo com quem éramos naquele dia e hora, até porque ninguém em sã consciência toma uma decisão que trará resultados ruins.

 

Por onde começar?

Acredito que o primeiro passo seja aceitação. Aceitar quem você era, que fez o seu melhor, que todos somos imperfeitos e por isso erramos muito.

É importante trabalhar esse raciocínio, para que o outro – de acusação – que está tão forte, vá aos poucos perdendo força. Não é fácil, muito pelo contrário, mas o resultado de não ter mais o peso da culpa rondando a mente vale a pena.


No meio do caminho você vai começar a perceber o quanto estava equivocado ao culpar-se tanto. Mas aos poucos, essa culpa tão massacrante e angustiante irá enfraquecer.


Minha sugestão é começar por um evento mais “fácil”, que possa te deixar mais confiante a seguir em frente.


O tempo passa…


Embora quase não percebamos, mudamos muito ao longo dos anos. Mas isso tudo é muito sutil, como a movimentação solar na metade do dia.

Só percebemos tais mudanças quando olhamos para trás, principalmente se houver contraste.  Por exemplo: “Hoje eu pratico atividade física e gosto, mas antes eu praticava por obrigação e antes disso sequer me exercitava.”

Ninguém acorda um belo dia e diz: “A partir de hoje serei uma pessoa sábia.” A sabedoria é construída ao longo do tempo.


Hoje não somos mais quem éramos ontem. Sequer somos quem éramos há 6 horas!


O que fazia sentido no passado pode não fazer mais hoje e vice-versa. Da mesma forma, o sentimento de culpa pode ser amenizado ou até suprimido se tivermos consciência de que fizemos o nosso melhor de acordo com o nosso conhecimento na época.


Não somos perfeitos – muitas vezes erramos enquanto tentávamos acertar, mas nossa ânsia por perfeição distorce e obscurece a realidade, nos levando ao interminável “e se”. Por isso, precisamos aprender a aprender como nossos erros para que no futuro não caiamos em erros afins, que nos levarão a novos processos de culpa.

 

Conclusão

Sem dúvida, todos gostaríamos de acertar sempre. Mas quando isso não ocorre, que sejamos capazes de dizer para nós mesmos de forma consciente e convincente: “Apesar dos resultados alcançados não serem os esperados, eu tenho certeza de que fiz o meu melhor, de acordo com minhas capacidades, conhecimento e possibilidades no momento.”

 

Créditos da imagem: Stuart Miles – Free Digital Photos

 

23 thoughts on “Perdoar a si mesmo: como isso é difícil!”

  1. Nossa, ainda bem que não tenho nada que me arrependa assim tão profundamente. Tlvz de não ter aproveitado mais a juventude mas…aproveite um pouco! Abcs

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  2. Bom dia, Rosana!!
    Que texto excelente!!!
    E as dicas que tu destes realmente funcionam. Há muito tempo atrás trilhei por este caminho. Não foi fácil. Mas consegui me perdoar e com isso abri caminho para ser mais tolerante não só comigo, mas com os outros.
    A aceitação e o tempo são fundamentais, depois que entendemos isso tudo vai se encaixando.

    Quero ressaltar o que tu dissestes quase no final "precisamos aprender a aprender", nossa como isso é imprescindível! Parece óbvio, mas a maioria não sabe aprender. Devemos criar a consciência de que a aprendizagem é constante e diária. Conservar a mente aberta e entender que nunca saberemos tudo, não imposta se temos 30, 40 ou 90 anos! sempre teremos algo novo para aprender.

    Grata pela interação lá no blog! Gosto muito das tuas colocações! Bom feriado e excelente semana!

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  3. AA40,

    Ainda bem que você não tem grandes arrependimentos. Espero que continue assim!
    Sobre a juventude, às vezes o não aproveitar tanto resultou em melhores caminhos, pois muitas vezes as influências nessa época da vida não são as mais adequadas.

    Abraços,

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  4. Olá Rosana,
    Como sempre seus textos são cheios de verdade e sabedoria.
    Obrigada por compartilhar com a gente.
    Tenho aprendido muito com seus textos.

    Perdoar é muito difícil, porque confundimos com esquecer o ocorrido. E não é. As vezes sentimos culpa até mesmo do que não podia ter sido feito de outra maneira.
    Muitas vezes pegamos para nós até culpa que não temos. E aja força de vontade para nos livrar dessas culpas!
    Como elas pesam!

    Um grande abraço pra você!

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  5. Excelente texto, Rosana!

    Há algum tempo, pensar no "e se…" era motivo para mim de insônia. Porém, eu não pensava no sentido de "aceitação". Sempre fui meio consciente de que não podemos prever tudo e eventualmente fazemos muitas coisas que poderiam nos trazer resultados melhores.

    Eu ficava divagando imaginando cenários, de como as coisas poderiam ser diferentes "se" eu tivesse tomado uma outra escolha no passado. Mesmo que isso fosse apenas um execício de imaginação, era muito nocivo pois confundia o mundo real com o imaginário e alimentava, possivelmente, a ideia de que poderíamos ter uma segunda chance.

    A meditação me ajudou muito a pensar no "agora" e a evitar tais divagações. Ter consciência de que muitas vezes não possuímos uma segunda chance, faz com que nossas próximas decisões sejam tomadas com mais cautela e responsabilidade.

    Abraços!

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  6. Edna,

    É tão bom saber que meus textos tem te ajudado! Isso me dá muito ânimo para continuar escrevendo. Agradeço por suas palavras são sinceras.

    "Muitas vezes pegamos para nós até culpa que não temos. E aja força de vontade para nos livrar dessas culpas!"
    Você disse tudo. Eu tenho alguns desses "fantasmas" em minha vida, dos quais ainda não consegui me livrar. Fiz o meu melhor, de acordo com o meu conhecimento – mas isso não foi o suficiente. Racionalmente eu entendo que agi certo, mas emocionalmente, acho que fui péssima. Embora ainda seja muito difícil para mim, pretendo escrever sobre isso em breve.

    Abraços,

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  7. Scant Tales,

    Quem bom que você conseguiu!
    Eu estou neste processo há um certo tempo. Racionalmente entendo que a culpa não foi minha (ou pelo menos não só minha), mas me sinto totalmente responsável. Como eu disse à Edna, pretendo escrever sobre isso em breve.
    O que escrevi neste post é o que procuro aplicar em minha vida. Para a maioria das coisas dá muito certo, mas há alguns "fantasmas" que continuam a me incomodar em relação a culpa.

    Abraços,

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  8. André,

    O mesmo aconteceu comigo: pensar no "e se" + insônia = inquietação.

    Gostei do que falou sobre a segunda chance, que em muitos casos é inexistente. Por isso, a clareza mental, o controle emocional, a sabedoria e o conhecimento são tão importantes. E para isso, acredito que a meditação e o mindfulness sejam praticamente essenciais.

    Eu também divagava muito. Hoje, quando percebo que estou seguindo por esse caminho, consigo interromper a sequência de pensamentos com mais facilidade. Antes isso era algo muito difícil, pois o pensamento acabava voltando. Agora não mais.
    Viva à plasticidade neuronal!

    Abraços,

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  9. Eu parei de pensar no "e se" dps do video do predador, do bastter rsrs. Adorei suas palavras, o texto trouxr um tema muito importante que actedito que todo mundo enfrenta, uma hora ou outra.

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  10. bem, teria conseguido se tivesse parado de cometer erros; mas, como isso não é possível, recomeço todos os dias.

    nem todas as memórias fantasmas são ruins. Algumas só precisam ser "domesticadas" ou racionalizadas pelo cérebro.

    abs!

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  11. Scant Tales,

    Racionalizadas, você disse tudo. Inclusive ouvi essa semana que somos seres com predominância emocional e não racional. Por isso a dificuldade.

    Recomeços diários… gostei disso! É algo para ser usado, vou refletir sobre o que disse.

    Abraços,

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  12. Já tive muitos medos do " e se", o tempo e as necessidades me obrigou a esquecer detalhes, essa de ficar em cima do muro não dá!
    Muito bom seu post!
    Abraço!

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  13. Falhar… faz parte da nossa condição… de ser humanos!…
    Mas bem poucos convivem bem com a falha, a crítica, e a frustração!…
    E talvez por isso o mundo esteja como está… com tanta gente, aparentando perfeição… e à beira da infelicidade eminente, por dá cá aquela palha… como aqui costumamos dizer… por qualquer coisa sem importância!…
    Já fui bastante exigente comigo própria… agora nem tanto… o bem estar, reside em aceitarmo-nos a nós, às nossas capacidades… e às circunstancias… que nem sempre conspiram a nosso favor como gostaríamos…
    Adorei o post! Beijinhos!
    Ana

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  14. Vivian,

    Como você disse: esse caminho não é fácil, mas fundamental para não deixarmos com que a culpa nos corroa por dentro.

    Sem tolerância, a vida se torna muito mais difícil, não é?

    Acredito que precisamos ter a mente aberta para aprendermos sempre, pois sem isso, paramos no tempo e acabamos nos prejudicando e também os que conosco convivem. Admiro pessoas mais velhas, de 90 anos, como você disse, que possuem essa disposição.

    Desculpe pela demora na resposta, só agora vi seu comentário.

    Abraços!

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  15. Ana,

    Eu também já fui muito exigente comigo, mas chegou um momento em que percebi que não vale a pena. Somos imperfeitos, falhar faz parte da nossa condição humana – entender isso é um caminho para a tolerância e para o bem estar.
    Agradeço por seu comentário!

    Abraços,

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