Deserto moderno – nos acostumamos demais com ele?

Na história bíblica, Moisés e seu povo foram peregrinos no deserto durante 40 anos.

Olhando de fora, parece bem longo o período de 40 anos fazendo o que você não quer em um lugar onde você não queria estar, mas fazendo um paralelo com o mundo ao nosso redor, parece até que 40 anos não é um tempo tão longo assim.


Não demora muito para nos acostumarmos com coisas que temos consciência de que não são boas para nós.

E assim, o que era estranho e incômodo no início passa a ser aceito com um misto de resignação, adaptação, conformismo e resiliência.

Para acalmar a voz da consciência que se faz presente de vez em quando – ou sempre para algumas pessoas – procuramos justificativas. Mas como justificar o injustificável?

Como justificar o fato de termos permitido ao deserto moderno estar tão presente em nossa vida?

 

Nada é por acaso

Não é por acaso o aumento do número de casos de doenças de origem emocional.

Não é por acaso que vemos tantas pessoas com olhares tristes e vazios, desprovidos de uma vida com sentido.


Quando paramos um pouco para prestar atenção, não tem como não perceber que há algo de muito errado com o sistema no qual – querendo ou não – estamos inseridos. É sobre isso que quero falar nesse post.

Nos acostumarmos com o que é bom é natural e agradável, mas e quando começamos a confundir o comum com o normal?


Nos acostumamos demais….

Nos acostumamos a acordar sobressaltados com o despertador tocando, enquanto o ideal seria o despertar natural tranquilo que ocorre quando dormimos a quantidade de horas que o corpo necessita. 

Ao acordar dessa forma, boa parte da disposição e energia necessárias para o dia jamais chegarão a existir, o que nos deixa cansados e sonolentos antes do momento que consideramos ser o adequado para irmos dormir.

Muitas vezes até gostaríamos de ir dormir antes, mas o excesso de obrigações e diversões nos faz querer ficar acordados um pouco mais. Ignoramos os avisos de nosso próprio corpo, pois aprendemos que dormir é perda de tempo e que afinal de contas, temos coisas mais importantes a fazer do que dormir.

O que esperar em termos de saúde ao praticar esse hábito durante 30, 40 anos? Mais saúde? Ou mais doenças?


 

coruja-com-sono


Nos acostumamos a consumir doces, frituras, refrigerantes, balas, bolachas recheadas, enfim, todos aqueles produtos que passam longe da análise racional. 


Por que fazemos isso?

Porque depois de um dia exaustivo e estressante fazendo o que não queríamos fazer e estando em um lugar onde não queríamos estar, acreditamos precisar de algum tipo de compensação.

Felizmente nem todos passam por essa situação, mas em maior ou menor grau, grande parte da população convive diariamente com essa situação.

Também nos acostumamos a comprar por impulso pela satisfação momentânea da compra: mais um objeto que será guardado junto com outros comprados pelo mesmo motivo. Afinal de contas, eu mereço!


A gente se acostuma a acender as luzes mesmo se o ambiente estiver razoavelmente iluminado pela luz natural. E a deixar televisores e computadores ligados quando ninguém os está utilizando. E a não dormir em um quarto escuro, mesmo sabendo que isso não é bom para a saúde.


A gente se acostuma com trânsito, longos trajetos diários, ruas esburacadas, transporte público de qualidade ruim.


A gente se acostuma a pagar muito por coisas que valem pouco. E a não dar tanto valor para o que é realmente importante


A gente se acostuma a comer correndo, sem saborear de verdade o alimento.  Mal engolimos e já estamos novamente com o garfo cheio nas mãos. Nos esquecemos que a digestão inicia-se na boca, através das enzimas presentes na saliva.


Como estamos com pressa, passamos uma tarefa maior ao estômago, que seria poupado de tanto trabalho excedente se a mastigação correta fosse utilizada. Parece até que nos esquecemos de que somos responsáveis por nossa própria saúde.


A gente se acostuma com a poluição do ar, da água, do solo e também com o excesso de barulho e de luminosidade das cidades.


A gente se acostuma com o excesso de telas eletrônicas e se esquece da natureza, da meditação e da oração.


A gente se acostuma com o estresse diário, com gastrite, tendinite, rinite e com todas as doenças que nos advertem sobre a importância de um estilo de vida mais de acordo com o organismo e não com o ego e/ou com a sociedade.


A gente se acostuma a ver a segunda-feira como um dia desanimador e a sexta-feira como um dia agradável. E a trabalhar pensando no final de semana. Mas se a semana tem 7 dias, por que apenas em dois dias nos sentimos menos insatisfeitos? O que temos feito com os outros 5 dias?


A gente se acostuma

E enquanto nos acostumamos ao que não gostaríamos, o tempo passa… De forma silenciosa e implacável.

E quanto mais nos acostumamos, mais nos distanciamos de nossa própria essência, valores, qualidades, afinidades e dons.


Que tenhamos sabedoria e coragem para colocarmos em prática as mudanças necessárias para nos distanciarmos o máximo possível da corrida de ratos da qual fazemos parte, pois estamos pagando um alto preço por essa adaptação a tantas coisas prejudiciais e/ou disfuncionais.


A maior parte dos exemplos que utilizei já não fazem mais parte da minha vida – e alguns nunca fizeram. Porém optei por esses por serem muito abrangentes e presentes na vida da maioria das pessoas.


Conclusão

Todos nós – ou pelo menos a maioria – somos peregrinos no deserto moderno. Alguns há menos tempo – 10, 20 anos. Outros há muito mais tempo – 40, 60 anos. 

Através da própria consciência todos sentem que há algo errado, mas poucos conseguem compreender o que.

Muitos passarão a vida toda sem essa compreensão, pois quando o pensamento incômodo aparece, mergulham no mar das justificativas injustificáveis e na zona de conforto já desconfortável a essa altura da vida. Esquecem-se que agindo dessa fora, nada mudará.

Creio que você tenha a sua lista pessoal do “a gente se acostuma”. Por isso, hoje eu gostaria de propor um desafio.


Procure em sua vida quantos “a gente se acostuma” existem.

Ao encontrá-los, verifique com atenção aqueles que te incomodam ou prejudicam e não pense duas vezes em buscar maneiras de eliminá-los ou minimizá-los na medida do possível. 

Essa mudança no mindset provavelmente fará com que você encontre outros também, muitos que talvez nunca tenha percebido. E apesar do incômodo inicial, isso é muito bom, pois te conduzirá cada vez mais de volta para a sua essência. 


E não há nada melhor para a saúde, para o bem-estar de maneira geral e para uma vida que faça sentido do que a certeza de que as ações são realmente executadas de acordo com a própria essência, valores e objetivos pessoais – e não de acordo com as implícitas e explícitas cobranças e ilusões sociais.

O caminho de volta não é fácil, mas sabiamente necessário. E lembre-se: toda mudança começa sempre com o primeiro passo.

Para finalizar, o Simplicidade e Harmonia: ficou em 6º lugar no ranking do site Sou Poupador!

2-ranking-2019-sou-poupador-simplicidade-e-harmonia-sexto-lugar



Crédito das imagens: Kay Wille e Mabel Amber (Pixabay)

17 thoughts on “Deserto moderno – nos acostumamos demais com ele?”

  1. Rosana, esses "desertos" sempre existiram e continuarão existindo na vida humana, a passagem bíblica é apenas um exemplo de situação que ocorrem na vida de todos nós, acho muito pouco provavel que alguém em algum momento não passe por isso. Isso não apenas no mundo moderno, mas em todas as fases da história.
    Ao meu ver temos aí alguns gargalos:

    Saber o que se quer. Mudar um hábito alimentar pode não ser tão fácil para alguns, mas de forma geral é mais fácil que mudade de emprego, profissão, encerrar um relacionamento, se afastar de pessoas, ou iniciar uma nova rotina, iniciar um relacionamento etc.
    Sinceramente, hoje eu acho que no fim das contas a maioria das pessoas não sabem ao certo o que querem da vida e passam muitas vezes a vida inteira sem saber.
    Eu mesmo não sei se vivi o que poderia ter vivido ou se tivesse feito outras escolhas se estaria melhor ou pior que hoje.
    Saber o que se quer parece óbvio, mas vejo que está longe de ser óbvio, muitos apenas deixam a vida os levar, outros aderem apenas ao que está "na moda" para também poder ostentar suas conquistas e mudanças em redes sociais, esse é um cenário moderno, a ostentação da vida. A pessoa inicia uma dieta, uma atividade física, um relacionamento, faz uma viagem e usa isso calgo ostentatório, não faz apenas por fazer ou pelo fim que deveria ter, mas fazem muito pra chamar a atenção, se sentirem incluídos, mostrarem que estão vivendo a vida etc. Esse é um fenômeno que ganhou força mais recentemente e que acho altamente discutível, mas é uma realidade.

    Sabendo o que se quer, tem que ter coragem pra mudar, está disposta a pagar os preços pela mudança. Aqui é a segunda parte: Quer algo? Mas como chegar lá?
    Como alcançar um objetivo e quanto isso vai exigir de nós é outro ponto importante.
    Não gosto do meu emprego, ou do meu chefe, ou de colegas. Mas e aí? Jogo tudo pro alto? Se sim, o que farei depois?
    Meu nomoro ou casamento ainda faz sentido? Faz bem ou mal? O que fazer agora?
    Estou muito só? O que fazer pra reverter isso?
    E tantas outras questões… O medo e as incertezas em muitassituações são verdadeiras ancoras que nos mantém paralisados. Coragem é fundamental, mas ela nem sempre nos acompanha na intensidade que seria necessário.

    Enfim Rosana, no fim das contas é tudo conosco mesmo e entre nós , nossa consciência e Deus. Há muito coaching, mentores, muita encheção de linguiça sobre motivação e afins.
    Mas no fim é entre nós, nossa consciência e Deus (pra quem acredita em Deus).

    É isso que Deus nos guie através de nossa consciência e pensamentos e que nós saibamos identificar os sinais que vida nos dá através de desconfortos, más notícias, desgastes do cotidiano, idéias, inspirações, reflexões etc e que após essas situações saibamos o que fazer com isso. Saber o que fazer com nossa vida, eis a grande questão.

    Boa semana.

    Reply
  2. Olá tudo bem?
    Que post brilhante, salvei aqui nos favoritos para ler sempre… E lembrar que precisamos viver cada detalhe. Adorei.
    Sobre o Adsense:
    Fiz umas pesquisas aqui, e acho que o ajuste do tema poderá resolver sua questão com o Adsense.
    Alguns temas, não são habilitados para ter banners e anúncios. Percebo que este tema atual, utiliza completamente a página… Pode ser isso. Faz um teste e pede apelação!
    Boa sorte.
    Abraços, Stark.
    http://www.acumuladorcompulsivo.com

    Reply
  3. Olá Rosana! Excelente texto! Olha, conheço muitas pessoas vivendo esse deserto moderno, viu?…

    Existe um conceito budista que diz que um dos mundos da roda do samsara é o mundo dos animais, onde vivemos apenas por instinto. Corresponde muito bem à sua ideia.

    Coincidentemente, eu escrevi um texto sobre a roda e algumas relações que fiz com a independência. Vou revisar amanhã cedo e publicar. E vou fazer um link para esse texto, dada a complementaridade em relação à instintividade.

    Lamento sobre o Adsense. Espero que o outro template ajude. Estou pensando um mudar o meu também, pensando em SEO, mas tenho um pouco de receio de dar tudo errado. Preciso também de um tempo extra para fazer as modificações e acompanhar. Enfim, veremos…

    Abraços!

    Reply
  4. Gente,
    Sou uma ninguém no mundo de vocês, mas me encanto com todos os textos e aprendizagem que venho adquirindo ao longo dos dias. Estou compulsiva lendo todos os blogs vencedores do ranking Sou Poupador.
    Continuem nessa jornada de relatos, porque vocês não têm noção o quanto ajudam outras pessoas.
    Sou grata por ter descoberto todos esses vencedores, estou me deliciando, meu horizonte está se abrindo de forma tão ampla, que admito uma certa ansiedade rsrsrsrsrsrsrs.

    Reply
  5. VL,

    Muitas pessoas sequer percebem o deserto moderno que nos rodeia, muito por causa do excesso de atividades e de estímulos sensoriais da atualidade.

    Li seu post, ficou muito bom. É uma ideia bem interessante. Agradeço pelo link ao meu post.

    Eu acho que a mudança de template no seu caso não mudaria nada em relação ao AS, até porque o seu domínio já está pronto para ele. Pelo que sei, utilizar técnicas de SEO não vai dar errado, desde que estejam de acordo com as regras do AS. O máximo que pode acontecer é não funcionar.

    Bom saber que gostou do meu post. 🙂

    Boa semana!

    Reply
  6. Semeador Financeiro,

    Bom saber que meu post foi tão útil à você. Nesse tipo de levantamento a gente acaba se surpreendendo com tantas coisas ruins com as quais nos acostumamos ou fomos ensinados desde a infância que "são assim mesmo" e que esse cenário nunca se modificará.

    Talvez seja por paradigmas e conformismos como os que citei no texto que a depressão, a ansiedade, o estresse e as doenças psicossomáticas estejam aumentando cada vez mais.

    Boa semana!

    Reply
  7. Stark,

    Bom saber que gostou tanto do meu post a ponto de salvá-los nos seus Favoritos. 🙂 Acredito que temos nos acostumado demais com coisas que nos fazem muito mal. E por nos acostumarmos tanto, acabamos nem percebendo mais o quanto nos prejudicamos.

    Agradeço pelo que disse sobre o AS. Acho que você tem razão sobre o layout, é algo que eu ainda não havia pensado. Estou fazendo alguns ajustes em um template externo, em breve vou trocá-lo.

    Boa semana!

    Reply
  8. Anônimo,

    Seu comentário ficou perfeito, agregou muito valor ao meu post.

    "…a maioria das pessoas não sabem ao certo o que querem da vida e passam muitas vezes a vida inteira sem saber."
    Eu também tenho essa impressão. A Síndrome do domingo à noite ilustra bem esse problema tão comum, mas tão pouco explorado.

    "Eu mesmo não sei se vivi o que poderia ter vivido ou se tivesse feito outras escolhas se estaria melhor ou pior que hoje."
    Essa é uma grande questão. Acho que poucas são as pessoas que conseguem não pensar dessa forma, que no final das contas acreditam que tomaram as melhores decisões na vida. Ao mesmo tempo, é uma questão para poucos, pois por ser incômoda, a maior parte das pessoas a ignora ou a silencia.

    "Esse é um fenômeno que ganhou força mais recentemente e que acho altamente discutível, mas é uma realidade."
    Infelizmente o TER tornou-se mais importante do que o SER. O problema é que esse tipo de atitude resulta em satisfação passageira, que acaba ocasionando um círculo vicioso de mais consumo. E no fundo, tudo isso é uma grande ilusão e também uma distração que não nos deixa pensar no que realmente importa para cada um de nós de forma pessoal.

    "O medo e as incertezas em muitas situações são verdadeiras ancoras que nos mantém paralisados. Coragem é fundamental, mas ela nem sempre nos acompanha na intensidade que seria necessário."
    Grandes questões também. Como saber qual é o melhor caminho?
    Será que muitas vezes não poderíamos considerar as âncoras como algo bom?
    Em relação a coragem, gostei do que falou. É uma característica que poderia estar mais presente em nossas vidas.

    "É isso que Deus nos guie através de nossa consciência e pensamentos e que nós saibamos identificar os sinais que vida nos dá através de desconfortos, más notícias, desgastes do cotidiano, idéias, inspirações, reflexões etc e que após essas situações saibamos o que fazer com isso. Saber o que fazer com nossa vida, eis a grande questão."
    Gostei especialmente desse trecho do seu comentário. Você disse tudo.

    Boa semana!

    Reply
  9. Excelente post Rosana.
    Gosto quando você escreve posts mais extensos.
    Seu post me fez pensar o quanto a minha vida é incompleta pq vivo longe do mar.

    O que mais me aflige no mundo é isso, pode parecer besteira ou idiotice pra quase toda a humanidade, mas pra mim não, isso é muito impressionante.

    Eu gosto muito de esportes aquaticos, surf, windsurf, kitesurf, snorkeling, andar de barco, velejar num veleiro, etc… e se o mar for de agua quente como no nordeste é maravilhoso, pra mim não tem coisa melhor.

    Me acostumei a morar longe do mar, mas isso tem os dias contados e me ajudou a crescer na vida como pessoa e como profissional, além também do lado financeiro, mas chega uma hora que a gente chega num platô e não vale mais a pena querer continuar subindo pois o custo fica cada vez mais alto emocionalmente e não adianta continuar jogando um jogo que já está ganho.

    Um abraço.

    Reply
  10. Frugal,

    Eu entendo você: o que parece bobagem para a maioria, na realidade é muito importante para algumas pessoas. A sensação de incompletude geralmente nos acompanha, porém quando estamos longe do que nos faz bem, do que recarrega nossa energia e nos proporciona bem estar, esse sentimento de faltar algo parece aumentar.

    Por questão de sobrevivência, de um certo conforto, de medo e/ou falta de coragem acabamos nos acostumando demais. Quando é por um tempo determinado como é o seu caso, acho até que se justifica, pois apesar do alto custo emocional, você tem planos para que sua vida seja muito mais do que a que vive atualmente.

    "não adianta continuar jogando um jogo que já está ganho."
    Exatamente. Muitos ou a maioria não chega nesse ponto da vida, mas para quem chega, creio que é necessário muita sabedoria para saber quando esse momento chegou, pois muitos acabam não usufruindo do que foi conquistado devido a doenças ou idade avançada.

    Bom saber que gosta dos meus posts mais extensos e que esse te levou a refletir sobre o tema.

    Boa semana!

    Reply
  11. é aquele pensamento:
    "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.

    Jim Brown"

    abs!

    Reply

Leave a Comment