O liquidificador, o excesso de confiança própria e as 4 lições que aprendi

Quando eu tinha por volta de 9 anos aprendi a fazer milkshake. Sempre de banana com baunilha ou de chocolate.

Pena nunca ter passado por minha cabeça que as receitas não precisavam ser seguidas à risca.
Por isso, nunca misturei os 3 ingredientes…

Só fui entender isso mais tarde quando descobri que as xícaras usadas para medir os ingredientes também podem variar. Assim como os próprios ingredientes, que podem ser substituídos e/ou excluídos das receitas.

O erro

Eu já me considerava muito experiente no assunto e em uma tarde fui fazer novamente a receita. Como eu gostava da espuma que ficava por cima!

milkshake

 

Coloquei todos os ingredientes no liquidificador, fechei bem a tampa e apertei o botão de ligar. Porém não reparei que eu havia esquecido a colher lá dentro…

Foi o tempo de apertar o botão e o copo estourar.


Não lembro onde a colher foi parar nem como eu desliguei o liquidificador, mas me lembro bem da bagunça na pia, no chão, na minha roupa e no trauma que ficou.


O resultado

Para mim, o brilho do milkshake acabou naquele momento.

Por volta de 4 anos depois e com muita cautela, fiz novamente um milkshake. Mas não havia mais aquele ar especial de antes, pois além da mudança inerente à vida, o susto foi bem intenso.

Tão intenso que eu não quis mais saber do liquidificador durante esse longo período, mesmo estando habituada a usá-lo bastante. Foi uma “separação bastante radical”.

 

As lições que aprendi

Extraí algumas lições desse incidente e gostaria de compartilhar com você. 


1) Excesso de autoconfiança pode trazer resultados desastrosos

De forma natural, o conhecimento teórico e a experiência proporcionam a autoconfiança.

Isso é bom, pois imagine se a sombra da insegurança e da dúvida sempre estivessem presentes em atividades rotineiras. O estresse seria tão significativo, frequente e sobreposto que o corpo provavelmente não aguentaria por muito tempo uma carga tão pesada.

Assim como a falta de autoconfiança é prejudicial, o excesso também é, pois muitas vezes estimula a pessoa a transpor o limiar da segurança mínima e arriscar demais.

Um exemplo bem comum, mas não normal são as ultrapassagens imprudentes em avenidas e rodovias. Se a razão estivesse mais presente do que a autoconfiança, muitos acidentes seriam evitados.

Eu acreditei que sabia usar o liquidificador de forma segura e por isso fui negligente na verificação em relação ao que deveria estar dentro ou fora do copo.


2) A pressa é inimiga da perfeição

Era o momento do intervalo no desenho que eu estava assistindo.

Quase todos os dias eu dava uma “corridinha” na cozinha e preparava algo para comer.


Nesse dia, acabou a pressa, o desenho…. Restou somente a bagunça para limpar, o susto e a perda do ar especial do milkshake para mim.


Muitas vezes a pressa pode custar caro. Ou até a própria vida.


3) Atenção a tarefa que está sendo executada

Eu estava na cozinha, mas com a cabeça no desenho que já iria recomeçar.

Por mais que a mente tenha a capacidade de colocar muitos dos processos no modo automático, pelo menos o mínimo aceitável de atenção é necessário para que não ocorram incidentes ou acidentes.

Além disso, mais atenção na tarefa executada poderá resultar também em alguma ideia criativa para simplificar ou ajustar o processo. Em resumo, há tempo certo para divagar e há tempo para a atenção plena.


4) Não deixar uma situação desagradável dominar a razão e a ação por tempo indefinido

Fiquei por volta de 4 anos sem utilizar o liquidificador por receio de cometer o mesmo erro – uma atitude totalmente irracional, pois o que ocorreu é um tipo de erro que dificilmente se comete 2 vezes.

Uma privação sem sentido, embora minha atenção tenha mudado ao lidar com esse eletrodoméstico, pois se tornou hábito verificar se está tudo certo antes de ligá-lo.

Acredito que a razão, o discernimento, a vontade e a coragem precisam caminhar juntas, pois são essenciais para que novas tentativas sejam feitas, independentemente dos resultados negativos alcançados anteriormente.


Já reparou que se você acertar 96 vezes e errar 4, se lembrará mais das 4? Racionalmente isso é de certa forma ilógico, mas as emoções e os sentimentos muitas vezes ocupam um espaço maior do que seria considerado saudável e ideal.


pessoa-ao-por-do-sol

 

Conclusão

Errar é algo inerente à humanidade. Todos, absolutamente todos, erram.

É essencial não permitir que os erros do passado dominem a mente de tal maneira que o medo e a insegurança estejam tão presentes a ponto de prejudicar que a coragem, a razão, o discernimento e a vontade assumam seus papeis no complexo sistema mental.


Essa não é uma tarefa fácil, mas muito importante para que a vida ocorra como esperado: entre erros e acertos, mas com ricas e preciosas lições aprendidas.

 

Crédito das imagens: Karsten Paulick e Geralt no Pixabay

 

22 thoughts on “O liquidificador, o excesso de confiança própria e as 4 lições que aprendi”

  1. Lindas constata~]oes e aprendizados baseados num simples milkshake… A falta de atenção e pressa e ainda certeza de sabermos realizar, pode surpresas nos mostrar!!! beijos, lindo dia! chica

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  2. SH, parabéns pelo texto!

    Achei fantástica a forma de como você, a partir de uma história simples e cativante, ter transmitido tantas lições importantes para a vida! Perfeito!

    VL

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  3. Querida amiga, errar e dos humanos.
    Em tudo que se faz há o planejamento e depois os procedimentos.
    Quando um item falha o acidente vem e mostra sua cara.
    Já tive várias experiencias com acidentes domésticos por falha nos procedimentos e outras por
    ações arriscadas mesmo.
    Bom é tirar aprendizado como aqui relatados e saber que segurança é a eterna vigilância.
    Mas nada de criar traumas.
    Bela postagem entre o humor e o sério com reflexão.
    Carinhoso abraço Rosana e que seja feliz a semana.

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  4. Olá S&H,

    Ouch! Que bom que pelo menos você conseguiu se recompor e superou o trauma depois do tempo. Muitos não chegam a fazer isso.

    Os erros são parte integral do aprendizado, mas todos nós insistimos em reprimí-los. E, não, não estou falando das escolas, pais ou professores; os primeiros que reprimem os nossos erros são nós mesmos. É um processo inconsciente, quase feral: sentimos vergonha, desencorajamento, decepção, etc. quando deveríamos justamente olhar pra frente, rir, reerguer e fazer de novo. Excelente insight.

    Tive já algumas "lições" dolorosas e caras na vida quanto a sobreconfiança em áreas que já pareciam "hábito" para mim. Tudo o que posso dizer é: se você bota a sua vida ou parte dela no piloto automático, quem que está controlando?

    Abraços e seguimos em frente!

    Pinguim Investidor
    https://pinguiminvestidor.com

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  5. Pinguim Investidor,

    Desde cedo na vida aprendemos que errar é algo muito negativo. Mas sem os erros, como aprenderíamos, considerando que a vida é feita de erros e acertos? Por isso, como você disse, é muito importante, acho que até essencial, superarmos o ocorrido e seguir em frente.

    A confiança excessiva é um grande problema, pois vivendo no "piloto automático" não somos nós que estamos no controle da nossa vida – exatamente o que ocorreu comigo.

    Um bom final de semana!

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  6. Toninho,

    Já que houve o erro, acredito que atitude mais sábia é tirarmos algum aprendizado dele, como você disse. Acredito que precisamos mesmo ter mais atenção, pois nunca sabemos quando um pequeno deslize pode trazer consequências mais graves.

    Bom saber que gostou do meu post. 🙂

    Um bom final de semana!

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  7. Simples… mas uma bela reflexão.
    Essa semana levei um choque com aquele mergulhão de ferver
    água k, dedo queimado etc. Mas já comprei outro k. Uma vez
    uma pessoa me disse: não dê forma a qualquer tipo de problema, pois
    eles geralmente viram monstros k; e com certeza tento incluir essa
    máxima.
    Bom finalzinho de mês e obrigada pela sua presença lá na casa.

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  8. A Casa Madeira,

    "não dê forma a qualquer tipo de problema, pois eles geralmente viram monstros."
    Gostei dessa frase. Se deixarmos os pensamentos livres em casos como os que você citou, os monstros criados serão tão grandes e fortes que acabarão nos privando de muitas coisas.

    Espero que já tenha se recuperado da queimadura.

    Agradeço também por sua visita em meu blog. 🙂

    Boa semana!

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  9. Oi, Rosana.

    Impressionante como podemos tirar lições valiosas a partir de situações cotidianas. Na maioria das vezes em que acontece algum acidente desse tipo comigo é por falta de atenção. Mas acho que o excesso de confiança é um dos maiores problemas, porque ele nos faz relaxar. Muitas vezes acho que a falta de atenção pode até ser consequência do excesso de confiança. Adorei a reflexão! Bjos

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  10. Marcella,

    "Muitas vezes acho que a falta de atenção pode até ser consequência do excesso de confiança."
    Acreditamos que já sabemos, que não precisamos mais prestar tanta atenção em todos os passos… e aí o acidente/incidente acontece.

    Boa semana!

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