Mercado de ações – 12 erros dos investidores iniciantes

Em 2019, a Bolsa alcançou níveis recordes de pontuação.

Em conjunto com as quedas constantes nas taxas de retorno dos investimentos em renda fixa, muitas pessoas acabaram migrando seus investimentos para o mercado de ações.

Como curiosidade, veja abaixo o número de investidores desde 2002 até 2020 segundo o site da B3.

Há 22 anos, haviam pouco mais de 85 mil investidores na Bolsa brasileira. E apesar da queda no início da última década, desde 2018 houve um crescimento significativo.

2002       85.249

2003       85.478
2004       116.914
2005       155.183
2006       219.634
2007       456.557
2008       536.483
2009       552.364
2010       610.915
2011       583.202
2012       587.165
2013       589.276
2014       564.116
2015       557.109
2016       564.024
2017       619.625
2018       813.291
2019       1.681.033
2020       1.945.607

Repare que de 2018 para 2019, a quantidade de investidores praticamente duplicou!

De forma geral, 2019 foi um ano muito bom para quem entende do mercado de ações, porém foi também um bom ano para quem está iniciando ou para aqueles que não conhecem tanto, mas que fizeram suas primeiras compras e vendas de ações. 

Esse foi o ano em que vários seguidores das casas de research afirmaram ter 80, 90 e até 100% do capital próprio investido em ações.


Seria esse um novo modismo, como aconteceu há alguns anos com as criptomoedas? O pouco conhecimento que eu possuía sobre esse assunto, me levou ao prejuízo.


O mercado de ações é uma boa opção, desde que o investidor tenha estômago para suportar a volatilidade, como a que ocorreu em 2020 devido ao coronavírus.

As ações da Petrobrás, por exemplo, perderam mais da metade do valor em menos de um mês.

 

gráfico Petr4 de 2020

 

É também necessário conhecimento e estudo para que você tome as decisões que acredita serem as mais adequadas.

O conhecimento não vem pronto: é preciso estudar, ler, informar-se sempre. 

 

Principais erros dos investidores iniciantes no mercado de ações


Abaixo está a lista dos que considero serem os principais erros dos investidores iniciantes:

 

1) Seguir a carteira recomendada da corretora

Posso estar errada, mas será que não pode existir um certo conflito de interesses se pensarmos que a corretora almeja mais movimentação para que mais taxas de corretagem possam ser cobradas?


Ou que haja algum interesse em sugerir determinada compra?


Há alguns meses, uma colega iniciante no mercado de ações resolveu comprar uma ação recomendada pela corretora. Em menos de 2 dias houve uma queda significativa no preço, o que a levou ao desespero e venda, realizando assim o prejuízo.

É preciso diferenciar ações que possuem um risco menor daquelas que possuem alto risco e volatilidade.

 

2) Não conhecer o básico sobre a empresa

Se conhecendo, o risco já é significativo, imagine sem conhecer…


No exemplo acima, minha colega não conhecia nada sobre a empresa do ponto de vista da análise fundamentalista e balanço, de forma que não haviam parâmetros que validassem ou não a recomendação da corretora para ela.

 

3) Comprar na alta e vender na baixa

Assim como ocorreu com as criptomoedas, quando o mercado está em alta muitas pessoas acabam comprando.

Sempre pensando em grandes lucros, há um certo otimismo meio disfuncional que prejudica a tomada de decisões mais coerentes com os objetivos e com a própria realidade.

Como diz Warren Buffett: “Seja ganancioso quando os outros são temerosos e seja temeroso quando os outros são gananciosos.” Mas sem exageros.

Minha opinião pessoal: vivemos um momento de cautela. Há oportunidades, porém muitas ações boas estão caras demais. Isso eleva o risco e pode diminuir o retorno.

 

4) Confiar apenas em relatórios de terceiros sem procurar o balanço ou mais informações sobre a empresa

As casas de research vieram para ficar.

Além dos relatórios serem acessíveis para a compreensão de quem não conhece “economês”, as carteiras recomendadas são muito úteis para quem não tem tanto tempo disponível para acompanhar o mercado quanto gostaria. E também para quem prefere seguir a orientação ou saber a opinião de um profissional da área antes de tomar uma decisão.

Apesar das vantagens descritas acima, fazer a lição de casa verificando o balanço e procurando informações sobre a empresa são muito importantes para que a decisão de compra seja embasada por bons e razoáveis argumentos de acordo com os objetivos pessoais.

Nunca acredite 100%, pois eles também erram. E você pode ter prejuízos por isso.

Inicie escolhendo as ações que fazem mais sentido para você. E estude sobre elas antes de tomar qualquer decisão de compra.

 

5) Esquecer os prejuízos do passado quando se começa a ganhar

Não é raro o otimismo ir na frente da razão quando tudo vai bem.


O problema é que em muitos momentos o mercado apresentará quedas. Nessas ocasiões, o excesso de otimismo e de confiança podem resultar em significativos prejuízos. Principalmente quando a venda é efetuada no momento errado, no momento de desespero.

Os erros do passado podem se transformar em grandes aprendizados. Esquecê-los ou ignorá-los pode custar muito caro.

 

6) Não realizar o prejuízo

Algumas ações podem frustrar o investidor, mas mantê-las pode resultar em prejuízos maiores.


No momento da queda de uma ação específica, muitas vezes a esperança e o otimismo falam mais alto e comandam as atitudes, mesmo que o investidor tenha consciência de que a situação da empresa é ruim e que a reversão do quadro possa demorar ou jamais ocorrer.


Ninguém gosta de perder, mas é melhor perder pouco do que muito.

Eu perdi com AERI, DMIL, IRBR, GFSA. Ainda não realizei o prejuízo, mas não tem mais como continuar com essas ações na carteira. Se eu tivesse saído no início, hoje não teria prejuízos que chegam a 80%. Além disso, se você contabilizar a inflação e a Selic do período, o prejuízo é ainda maior. Por isso, tão importante quanto saber o melhor momento de comprar, é identificar também o momento mais apropriado para vender.

 

7) Olhar as variações diárias do homebroker

O mercado de renda variável pode causar muito desconforto e ansiedade devido as oscilações no preço das ações, como as quedas em sequência causadas pela incerteza devido ao coronavírus há 4 anos.

Acompanhar tais oscilações diariamente pode prejudicar muito a decisão do investidor, que pode se desesperar em momentos de queda e vender com prejuízo.

Ou ficar otimista demais nos momentos de alta e esperando mais valorização, comprar mais quando as ações estão caras, o que diminui de forma significativa a margem de segurança.

 

8) Não conhecer nada sobre os fundamentos da empresa

Pouco – ou nada – se aproveita a longo prazo de ações negociadas a poucos reais se os fundamentos da empresa não são sólidos, se a estratégia de crescimento não foi bem delineada ou deu errado. Ou se a empresa “parou no tempo” ao não atualizar seu portfólio às necessidades do mercado tão dinâmico da atualidade.


Ações de empresas assim ficam estagnadas e são até esquecidas.

Ou acabam sendo totalmente desconhecidas por parte da maior parte dos investidores – o que de certa forma é bom, pois minimiza os riscos e os possíveis prejuízos.

Existem ações boas e baratas na Bolsa. Porém, há muita coisa ruim também. 


Também existem ações de várias empresas conhecidas e estimadas pelo público, que apesar da popularidade da marca, não são boas oportunidades no momento devido a estratégias equivocadas, endividamento elevado ou balanço que não inspira confiança.


Por isso, acima da admiração pela marca, é essencial que os fundamentos e o balanço da empresa sejam analisados, a fim de concluir se a compra de ações da empresa em questão é um bom negócio ou não.

 

9) Seguir a multidão

Não é por que “todo mundo está comprando” que a empresa é boa.

Assim como aconteceu com as ações do grupo X e com as criptomoedas, há muitas indicações de ações quando um novo ano se inicia, desde blue chips até empresas que são consideradas promessas. 

Muitas dessas indicações são válidas, porém conhecer os fundamentos e balanço da empresa antes de optar pela compra é essencial para que a melhor decisão seja tomada de acordo com o perfil e objetivos do investidor.

 

10) Ignorar os fatos quando já ocorreu o prejuízo

Aqui o otimismo mais atrapalha do que ajuda, pois racionalmente a convicção de vender para não ter prejuízos ainda maiores gera um certo desconforto que é minimizado pela esperança de que os preços voltem aos mesmos patamares de compra.

O problema é que nem sempre isso ocorre. 


Muitas vezes a esperança torna-se inversamente proporcional ao prejuízo: quanto mais prejuízo, mais esperança de que as coisas se normalizem na empresa e que dessa forma o preço das ações suba novamente.


Se após a análise do balanço e dos fundamentos a conclusão não for boa, a melhor coisa a fazer é vender para que o prejuízo não seja ainda maior.

 

11) Investir os recursos de curto prazo

Mesmo com o nobre objetivo de aumentar o patrimônio, o prejuízo pode ser grande, dependendo das ações compradas.

 

12) Investir a maior parte do capital na Bolsa

Quando o mercado está em alta, ver o capital se valorizar de forma tão rápida pode ser fascinante. Mas muitas vezes ilusória, pois os ciclos de altas e quedas são bem reais.


Se o investidor for capaz de identificar o melhor momento para sair, a estratégia irá funcionar. Porém nem sempre – ou quase nunca – isso ocorre, pois ninguém consegue sempre acertar de forma exata o melhor momento.


Quando o prejuízo bate à porta, o investidor manter as ações na esperança de que voltem a valorizar, pode piorar ainda mais a situação.

Por isso, não invista mais do que o seu estômago e o seu sono são capazes de administrar de forma relativamente saudável. Especialmente em épocas de grandes turbulências e circuit breakers.

Perder sempre é desagradável, mas perder 50, 60% do capital investido em ações chega a ser algo surreal e extremamente desconfortável. Por isso, a diversificação entre as classes de ativos de renda fixa e variável e o balanceamento da carteira são tão importantes.

 

Conclusão

Muitas vezes o investidor inicia no mercado de ações com altas expectativas de ganhar muito em pouco tempo e dessa forma resolver seus problemas financeiros ou alcançar um nível de vida confortável.

O excesso de confiança e a sorte de principiante muitas vezes acabam validando as altas expectativas e anulando a cautela e o lado racional, formando assim a tempestade perfeita para os resultados negativos.

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Aprender com os próprios erros é bom. Mas aprender com os erros dos outros pode ser melhor ainda, pois dessa forma, evita-se trilhar por um caminho que já foi percorrido antes. E que já deu errado.

Errar faz parte da natureza humana. Por isso, querer obrigar-se a acertar sempre é um caminho muito rápido para a frustração.


Estudar e ter interesse no aprendizado é essencial para que as melhores decisões sejam tomadas de forma consciente de acordo com o conhecimento adquirido e com o perfil do investidor


E mesmo assim, sempre os erros se farão presentes, mas em menor quantidade com o passar do tempo, pois conhecimento e experiência formam uma dupla perfeita na vida daqueles que estão dispostos e abertos ao aprendizado.

 

Qual você considera o principal erro do investidor iniciante? Compartilhe sua opinião abaixo!

 

 

Finalizando a série Janeiro Verde

Com esse post eu encerro minha série de posts Janeiro Verde, iniciada pelo amigo Marcelo Corghi. Espero que esses 3 posts tenham te ajudado de alguma maneira a pensar mais sobre sua própria vida financeira.

Ao conhecer melhor o seu perfil de investidor, você poderá delinear estratégias de investimentos nesse sentido para rentabilizar melhor sua carteira, aumentar seu capital sem perder o sono por isso.

Convido você a ler também meus outros posts sobre Educação Financeira. Espero que possam ser úteis à você!

 

 

Obs: esse post tem caráter meramente informativo. A responsabilidade pelos investimentos é única e exclusivamente do leitor.



Crédito das imagens: InfomoneyPinterest

 

11 thoughts on “Mercado de ações – 12 erros dos investidores iniciantes”

  1. Olá Rosana, boa tarde

    São lições valiosas e concordo com você sobre o nosso aprendizado que é construído passo-a-passo.

    Algo que percebo é a dificuldade em repassar as experiências para as pessoas próximas que frequentemente fazem muito ALL-IN. Sempre prezei pela moderação e nunca gostei de colocar “todo os ovos na mesma cesta”.

    Abraços

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    • Sobre o All-IN, complicado mesmo, VAR.

      O excesso de otimismo muitas vezes mais atrapalha do que ajuda. Pois nem sempre vamos saber o momento certo de sair.

      Para mim, a moderação também é o melhor caminho.

      Abraços!

      Reply

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