Monólogos em grupo

A mente humana é fantástica.

Simultaneamente executa diversos processos complexos, sendo muitos deles ainda desconhecidos. Entre os conhecidos estão o raciocínio e os atos de falar e ouvir.

Por trabalhar no modo mono-tarefa, a mente está programada  para ouvir, falar ou raciocinar. 

Um processo de cada vez e não os três, como muitas vezes tenta-se fazer. Em atividades automáticas, como andar de bicicleta e cantar, isso é possível, mas nesse post me refiro ao diálogo entre duas ou mais pessoas.


Monólogos coletivos

E por não ser possível ouvir de verdade enquanto se está pensando ou falando – e muitas vezes até atropelando a fala do interlocutor – a conversa fica prejudicada, pois não foi aproveitada em seu máximo potencial.

Muitas vezes, em vez de ouvir o que a outra pessoa está falando, o raciocínio está trabalhando de forma vigorosa para rebater ou questionar fragmentos do que foi dito.
A questão é que sem ouvir o pensamento completo que foi explanado, fica difícil responder de forma assertiva.

Perdemos a capacidade – ou a paciência – de ouvir?

Hoje em dia é raro alguém prestar 100% de atenção no que a outra pessoa está falando: ou está “viajando” ou está procurando argumentos ou exemplos contra ou a favor.

Um exemplo clássico é quando aborda-se o tema doenças.

Se você diz que está com gastrite, antes que termine de falar a outra pessoa diz que já teve úlcera. Repare que ela nem se importou com o que você disse, nem perguntou como está se sentindo ou ofereceu alguma sugestão para que você melhore. Já foi logo dizendo que o caso dela foi pior.

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Nem tudo o que é dito tem tanta importância

Há de considerar-se que há conversas e conversas. No exemplo acima, talvez você quisesse uma sugestão de como lidar com o problema.  E um pouco de empatia. Poderia ter sido uma conversa de qualidade.

No entanto, há conversas que dependendo da pessoa e do assunto, o mais sábio para o próprio bem é desligar-se mesmo, mas com educação.

O mais correto mesmo seria interromper e sair, mas quem tem coragem de fazer isso quando a pessoa está contando sobre um evento muito importante de sua vida, mas com uma riqueza de detalhes impressionantes e à você irrelevantes?

Há momentos em que dá para interromper ou cortar o assunto, mas há o risco de deixar a pessoa magoada… Precisamos de muita sabedoria para lidar com essas questões. De qualquer forma, não é esse o tipo de conversa que é o objetivo desse post.

 

Conversas significativas

São nessas conversas que a interrupção é muito frequente: entre familiares, amigos, no trabalho.

É necessário ouvir com atenção para que a mente elabore uma resposta inteligente. E consiga absorver algum aprendizado. O silêncio entre a fala de uma pessoa e da outra praticamente sumiu! Isso quando uma não interrompe a vez da outra.


E de monólogo em monólogo em grupo caminha a humanidade, pois o diálogo está caindo em desuso quando usado de forma pessoal, cara a cara.


Por mais incrível que possa parecer, as redes sociais têm sido muito úteis nesse sentido, pois é necessário ao menos ler antes de responder.

Ainda assim, as interrupções de pensamento existem, mas acabam sendo um pouco menores. Porém, acredito que essa interação seria de melhor qualidade se no mundo real houvesse mais equilíbrio entre falar e ouvir.

 

Por que será que a humanidade perdeu a capacidade de ouvir de verdade?

Será que isso tem alguma relação com a fragmentação da atenção ocasionada pela tecnologia?

Ou será que tem a ver com o fato de vivermos na sociedade da pressa, na qual tudo tem que ser feito o mais rápido possível?

Ou será que há alguma outra causa por trás da ânsia em falar e pela pouca atenção e interesse dados ao ouvir? 

Sinceramente, não sei….

O que você acha?

Créditos da imagem:  Master isolated images – Free Digital Photos

 

 

18 thoughts on “Monólogos em grupo”

  1. Não há apenas uma causa pra isso tudo, na verdade há uma série de fatores:

    – Pessoas que querem ou acham que tem sempre razão. Nem prestam atenção ao que o outro diz por julgar ser bobagem.
    (Tem pessoas que são vaidosas até nisso)

    – Cansaço ou saturação de assuntos e/ou pessoas. Pessoas muitas vezes estão cansadas/saturadas de conversar ou ter que conversar com certas pessoas ou sobre certos assuntos e aí de certa forma fogem da conversa e um tipo de fuga e ignorar o outro.
    (Esse tipo de situação as vezes é dificil de evitar pois há situações, assuntos que naturalmente enjoam e muitas vezes não são produtivos)

    – Pessoas com repertório de assuntos muito pequeno. Quando se vê cotidianamente alguém que sempre fala sobre os mesmos assuntos pode haver o desinteresse por parte do ouvinte.

    – Pessoas competitivas demais. Tem gente que quer ganhar até nas conversas, quer fazer sua opinião prevalecer e ponto final. Pessoas assim afastam quem tem comportameno diferente e por seu lado ignoram ou fazem pouco caso de quem pensa diferente.

    – Celulares e seus apps. A tecnlogia está na mão de quase todos e pra alguns e viciante, a ponto de a concentração no que se está fazendo ou deveria ser feito passa a ser nula.
    Prestar atenção em alguém então… É mais interessante ler, assistir, ouvir ou conversar com alguém do que estar ligado no momento presente.

    Pessoas que só falam em tragédias e coisas negativas, fofoqueiros natos etc. Esses são tipos de comportamento que afastam ouvintes. Exceto no caso dos fofoqueiros, ouvintes que gostam de fofoca (não são poucos).
    No caso dos trágico só atraem ao meu ver, outros trágicos e quando isso ocorre eles ficam competindo pra ver quem está pior ou tem a estória mais triste pra contar.

    A internet como quase tudo tem pontos bons e ruins. O bom é poder acessar todo tipo de informação e interegir com outras pessoas.
    O ruim é que a velocidade das informações, a quantidade de conteúdo faz de certa forma com que as pessoas fiquem impacientes pra quase tudo.
    Tudo tem que ser na hora e essa paciência se extende até pra relações pessoais e conversas.

    OBS: hoje há diversos livros, palestrantes e afins divulgando conteúdos relativos à superação, produtividade etc. No mercado de trablho isso vem sendo bastante explorado.
    Desde que isso seja feito com realismo e equilíbrio tudo bem. Mas vejo que muitos estão querendo fazer mais que suas capacidades físicas e mentais, agendas lotas, muita coisa pra pensar, metas, metas e mais metas.
    A vida pessoal vai pra último plano e as pessoas não se sentem a vontade para questionar isso, porque sentem medo ou vergonha de serem consideradas fracas perante seus pares.
    Afinal reclamar é apara os fracos.
    Nisso vai se formando uma auto hipnose produtiva ou pseudo produtiva coletiva, onde as pessoas adotam discursos e estilos de vida sem nem saber porque.
    O Japão tem muito dessa cultura e apesar de ser uma sociedade com seus pontos positivos, tem alto índice de suicidios e muitas pessas que não tem muito "jogo de cintura" diante da vida, até por não saber lidar com frustração.

    Equilíbrio é fundamental

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  2. Desculpe pelos erros de digitiação, escrevi com pressa. Pressa atrapalha também na internet.

    Só pra finalizar esse comentário tão longo. Muitas pessoas não gostam de ouvir a verdade porque entre outros motivos não querem reconhecer erros, inércia, defeitos, comportamento ruins pra si e para outros etc.
    E também porque a pessoa muitas vezes julga que não consegue mudar o que lhe incomoda e quando alguém aponta isso, é como colocar o dedo numa ferida adormecida.

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  3. Boa noite
    Postagem muito interessante. Realmente estamos vivendo numa época da pressa e o ser humano não tem mais tempo para ouvir de forma correta. Precisamos mudar essa realidade. Bjs querida.

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  4. Anônimo,

    Gostei do seu comentário e dos fatores citados. Agregou muito valor ao tema.

    Vivemos na sociedade do excesso. As pessoas são cobradas e precisam fazer mais do que podem. Não é à toa que os problemas de saúde relacionados ao estresse, depressão e ansiedade aumentam a cada ano. Parece até que a humanidade esqueceu-se de que não é formada por máquinas, mas por seres humanos, falíveis e com necessidades específicas em relação ao próprio bem-estar e equilíbrio para que a vida realmente tenha sentido.

    Bem lembrado sobre o Japão. Cobrança demais nunca é saudável, pois ultrapassa os próprios limites humanos.

    Eu acredito que uma das características positivas que mais falta à humanidade – de forma geral – é equilíbrio. Sem ele, o fato das pessoas adotarem estilos de vida e ideologias de forma automática é cada vez mais comum.

    A questão é: onde isso tudo vai parar?

    Querer superar limites e encontrar soluções é saudável e bom para o desenvolvimento da sociedade, mas não da forma exagerada como ocorre atualmente.

    Não precisava se desculpar pelos erros de digitação. 🙂

    Sobre essa parte do comentário, o autoconhecimento e a maturidade são essenciais para que a capacidade de aprender com os próprios erros e com as críticas esteja presente.

    Boa semana,

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  5. Belas provocações, Rosana!

    De fato, acredito que seja um conjunto de fatores, como bem apontado pelo Anônimo lá em cima. Ele resumiu bem as questões.

    Sobre o conceito de "monólogo", eu entendi o que vc quis dizer com a ideia de falta de empatia e pensar somente em sua própria fala e problemas.

    Mas às vezes fico com medo do monólogo no sentido de que apenas uma pessoa fala e não dá abertura para a gente falar também. Muitas vezes conversamos com pessoas pouco objetivas, confusas ou meio egocêntricas que engatam assuntos em cima de assuntos e, quando você tenta (educadamente) colocar seu ponto de vista, ela age justamente dando lição de moral dizendo que a gente deveria saber ouvir, etc…

    Enfim, concordo: temos dois ouvidos e uma boca por alguma razão, mas tem umas pessoas por aí que acham que isso só vale para os outros rsrs

    Abraço e excelente ano!

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  6. André,

    Em relação a esse segundo tipo de pessoas que você citou, eu desisti. Não adianta você tentar colocar o seu ponto de vista. Basta ouvir e concordar com o que o seu interlocutor fala.

    Se isso é bom? Não. Mas com o tempo fui percebendo essa como sendo a melhor solução para mim. Em um caso ou outro, se for uma pessoa que eu considere muito, ainda vou tentar argumentar, mas fora isso, prefiro deixar para lá. Acho que não vale a pena.

    Geralmente não há espaço na conversa para você opinar, pois são pessoas que ouvem talvez 30 segundos do que você está falando e logo interrompem. Além disso, será que vale a pena ouvir lição de moral de uma pessoa que também não sabe ouvir?

    Penso como você: 2 ouvidos e uma boca – isso não é à toa.

    Bom saber que gostou do meu post. 🙂

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  7. Excelente artigo, Rosana!

    Eu tenho treinado bastante isso, porque às vezes fico impelido a querer interromper o interlocutor. Acho que o fato de estarmos cada vez mais dependentes de celulares cria essa ansiedade toda.

    Abraços, e boa semana!

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  8. Guilherme,

    Acredito que não apenas o celular, mas o mundo moderno tão acelerado acaba gerando muita ansiedade que acaba gerando esse tipo de problema.

    Bom saber que você percebeu e está treinando para não interromper o interlocutor! Já reparou que enquanto tenta interromper, sua atenção sobre o que ele está dizendo fica bem prejudicada?

    Abraços,

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  9. Olá Rosana,
    Não sei se os monólogos são algo dos tempos modernos ou inerentes à natureza humana mesmo de só pensar em si. Seria o famoso ego?
    Agora concordo com o aumento da falta de empatia. Com as pessoas vivendo mais distantes da família e nos centros urbanos o senso de comunidade se perde e a empatia vai caindo junto.
    O exemplo da gastrite é muito bom, rsrs, as pessoas não escutam, elas só esperam caladas sua vez de falar. Numa roda de amigos é muito legal de ficar calado só prestando atenção em como a conversa muitas vezes é só um aglomerado de monólogos.
    Abs!
    M

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  10. Boa noite, querida amiga Rosana!
    Fico pasma ao ver aqui tanta verdade tão bem escrita e comentada.
    Eu peço licença antes de interromper alguém com quem tenha muita intimidade no dialogo, mas, mesmo assim, é indelicado.
    Um bom lembrete tem aqui para que não sejamos apressados pois faz tão bem escutar gestos, posição corporal e outros… quando alguém fala.
    Muito obrigada pelo post partilhado.
    Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados em 2019!
    Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem
    🌷🌼🌹🌺🏵🌸🍪🙏

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  11. Sempre sábado,

    "Aglomerado de monólogos" – gostei dessa expressão. Infelizmente muitas vezes é isso mesmo o que ocorre e apenas observar acaba sendo a melhor decisão.

    Em relação ao ego, acredito que sempre existiu, mas penso que talvez isso tenha se intensificado nos últimos tempos devido ao excesso de informação que está saturando a mente das pessoas, o que tem causado muitos transtornos mentais como estresse, ansiedade, depressão, etc.

    Boa semana!

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  12. Roselia,

    Bom saber que gostou do meu post, suas palavras são muito motivadoras!

    Bem lembrado sobre as outras expressões inerentes à uma conversa, pois nem só de palavras é feito o diálogo, mas de todas as expressões corporais.

    Que 2019 seja um ano feliz e abençoado à você e aos seus amados também!

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