Você não é os seus sentimentos

Com grande frequência há uma certa confusão entre os estados da mente e a personalidade.

Veja alguns exemplos:

“Eu sou triste.”

“Eu sou frustrado.”

“Eu sou irritado.”

“Eu sou medroso.”

“Eu sou otimista.”

“Eu sou pessimista”.

Ninguém pode dizer que está 100% do tempo com algum dos sentimentos e emoções acima, pois eles podem estar presentes. Ou não.

Aliás, seria muito prejudicial estar triste, irritado ou com medo durante a maior parte do tempo, pois a qualidade de vida seria extremamente afetada, assim como a saúde física e mental.

Por outro lado, o otimismo em excesso também pode atrapalhar a adequada análise dos fatos e dessa forma, decisões erradas podem ser tomadas. O conhecido “dar o passo maior do que a perna”.

 

Garoto triste na cama, cabisbaixo e abraçando o cobertor

 

Eu sou gripado

Você nunca ouviu alguém dizer a frase acima, pois ela não faz nenhum sentido.

O estado gripal é passageiro: dura alguns dias e logo o corpo se recupera.

Porém, em relação aos sentimentos e emoções, geralmente rotulam-se estados mentais como características inerentes à pessoa. Como resultado, a confusão está criada.

Uma pessoa que acredita ser irritada, acaba agindo de maneira a tornar sua crença real ao reforçar hábitos nesse sentido, como por exemplo, agir com impaciência ou dizer que tem mesmo o “pavio curto”. Tudo isso ocorre de forma inconsciente.

Se a pessoa se questionar sobre o motivo que a leva a agir sempre de uma determinada forma e por que acredita ser uma pessoa irritada, é bem provável que seja capaz de reformular suas crenças e atitudes, pois poderá identificar quais situações são os gatilhos mentais para que a irritabilidade apareça.

Com resultado, a paciência e o domínio próprio poderão estar mais presentes, tornando a resolução dos problemas menos difíceis e as relações menos tensas e mais leves.

 

A personalidade

Os traços de sua personalidade vão permanecer com você para sempre.

São vários traços, que em maior ou menor intensidade fazem com que você seja exatamente a pessoa única que é.

Se tiver interesse em saber mais sobre alguns tipos de personalidades disfuncionais, veja a resenha que fiz do livro Psicopatas do cotidiano, da psiquiatra Katia Mecler.

Se você é introvertido, sabe que é impossível tornar-se extrovertido. E vice-versa.

Você pode até fazer cursos para falar bem em público e se sair muito bem em palestras, mas isso não mudará sua personalidade, pois suas necessidades e características de introvertido sempre estarão presentes. 

Enquanto isso, muitos extrovertidos estão tendo vários desafios nessa pandemia devido a grande necessidade de contato pessoal, de “ver gente”.

Veja como são as coisas: um grupo chega até a se sentir cansado com tantos contatos pessoais enquanto o outro grupo necessita exatamente desse tipo de contato para sentir-se bem e disposto.

Não é raro que um grupo não veja sentido nas necessidades do outro grupo, porém ambos são necessários para o equilíbrio da sociedade.

 

Questione-se!

Procure prestar mais atenção em seus sentimentos e emoções.

Quando identificar um que costuma ver como parte de sua personalidade, questione-se.

Por que estou me sentido assim?

Esse é um sentimento que aparece automaticamente quando penso em um determinado assunto?

É algo que me faz bem? Ou que piora meu estado de ânimo?

É algo que vai e volta ou é algo que está comigo o tempo todo, como a introversão ou a extroversão?

Me sinto assim somente quando acontece um fato desagradável? Ou algo muito agradável?

Eu sou mesmo uma pessoa triste?

Irritada?

Frustrada?

Hostil?

Medrosa?

Pessimista?

Otimista?

Ou costumo agir sempre da mesma forma por acreditar que essas características fazem parte de mim e creio que são imutáveis?

É preciso lembrar também que muitas vezes as pessoas rotulam umas às outras e que tais rótulos podem se tornar potencialmente perigosos quando internalizados sem uma prévia e rigorosa avaliação.

Como resultado, um sentimento ocasional pode tornar-se tão frequente a ponto de confundir-se com a personalidade.

 

Felicidade e Tristeza escritas em inglês. Tristeza escrita em minúsculo centenas de vezes formando a palavra felicidade

 

Conclusão

Sentimentos e emoções passam.

Pode demorar um pouco para isso acontecer, mas eles não ficarão para sempre com você.

Por isso, não alimente a crença de que um sentimento é parte do seu “eu”.

Sempre suas atitudes estarão de acordo com o que você acredita ser verdade. E muitas vezes suas crenças resultam exatamente nas atitudes que você quer evitar.

Enquanto você se sente mal por agir de determinada maneira, sua mente inconsciente fará de tudo para que os padrões mentais previamente aceitos sejam cada vez mais reforçados – o oposto do que você quer e espera para sua vida.

Lembre-se sempre: você não é os seus sentimentos.

Na realidade, você é muito mais do que os seus sentimentos.

 

Créditos das imagens: Augusto OrdonezGordon Johnson –  Pixabay

 

 

12 thoughts on “Você não é os seus sentimentos”

  1. Muito bom o texto. Não podemos nos ato rotular! Podemos estar tristes, mas logo passa. doentes e saramos e por aí vai! Manter a cabeça boa é preciso e saber que tudo chega e vai! Linda semana! bjs, chica

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  2. Olá Rosana, que belo texto nestes questionamentos.
    Creio que estamos em continuo encontro com o SER e ESTAR.
    Nada fácil saber surfar nossas emoções dentro de nossas personalidades.
    Tornar-se o que o outro pensa que sou é sempre uma possibilidade não descartável, quando não se tem uma firmeza de personalidade.
    Muito boa postagem.
    Abraços na feliz semana.

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    • Toninho,

      “Tornar-se o que o outro pensa que sou é sempre uma possibilidade não descartável, quando não se tem uma firmeza de personalidade.”
      Sua colocação ficou perfeita. Por isso, precisamos saber muito bem quem somos e onde queremos chegar.

      Há muitas pessoas ao nosso redor que nos dizem: “Acho que não vai dar certo”. Mas não é dando ouvidos à esse tipo de argumento que a vida pode mudar para melhor. Muito pelo contrário.

      Bom saber que gostou do meu post!

      Abraços,

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  3. Olá Rosana, boa tarde

    São lindas suas palavras e profundas essas reflexões. Concordo com você que somos muito mais que nossos sentimentos.

    Uma coisa que me veio a mente é sobre a tradução desses dois verbos (ser e estar) para o inglês (to be). Possuem a mesma tradução, porem possui significados tão distintos.

    Abraços,

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    • Voando Abaixo do Radar,

      Boa observação sobre o verbo to be. Quanta confusão não pode ser causada pelo uso de uma palavra tão simples e usual, não é?

      Bom saber que gostou do meu post!

      Abraços,

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    • Ifólogo Pop,

      E quando confundimos o “estar” com o “ser”, muitas vezes acabamos fazendo exatamente o que mais queremos evitar.

      Bom saber que gostou do meu post! 🙂

      Abraços,

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    • Lucinalva,

      Precisamos mesmo prestar muito atenção, pois nossos sentimentos e emoções podem nos levar para o que mais queremos evitar através das atitudes que nos impulsionam a termos.

      Agradeço por ter postado uma frase minha em seu blog. É uma grande honra para mim.

      Parabéns pelos 12 anos de blog!

      Abraços,

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  4. Excelente texto, Rosana!

    Tudo isso me lembrou de uma coisa muito importante, mas que as pessoas hoje em dia não dão a devida atenção: há muito poder nas palavras e, portanto, devemos tomar cuidado com o que expressamos através delas.

    Abraços!

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